Copyright © Isabel A. Ferreira 2008
Preâmbulo
Num ameno Outono, já distante, passeava na praia, à hora do entardecer.
Ao meu redor, as gaivotas vozeavam como se quisessem dizer-me algum segredo.
As águas mansas do mar afagavam ternamente os meus pés desnudados, enquanto o Sol derramava no horizonte a sua refulgência de cores róseas, afundando-se noutros mundos.
Foi então que, no impulso de um momento, fiz do mar um ser vivente, meu amigo, meu amante, companheiro e confidente, o qual, durante um certo tempo, necessariamente breve, idolatrei.
E entre brumas e penedios (1), com este ser fascinante vivi momentos de verdadeiro encantamento e ternura que, inevitavelmente, o meu imaginário transformou em realidade.
E foi envolto em indizíveis mistérios que este cântico se libertou das profundezas do meu ser, mergulhando no ventre das águas, onde gerei estas melodias...
(1) Embora o termo penedio não conste em nenhum dicionário da Língua Portuguesa, em nome de uma estética poética e de uma dualidade que se quis feminina (brumas) e masculina, os penedios nasceram aqui, neste livro, como um rochedo no mar…
***
Encantamento
Mar,
ouço os teus
murmúrios
e apetece-me
seguir-te
até às profundezas
do teu ser,
e entre
as tuas criaturas
aquietar meus
desejos...
***
Ternura
As brumas
envolvem
as tuas vestes
de espuma,
e entre os
negros penedios
repousam
as gaivotas...
Já o Sol
envolve a manhã
ainda adormecida,
enquanto as tuas
águas
mansamente
acariciam o areal.
De súbito,
eu,
que não faço parte
da paisagem,
sou despertada
pelo mais suave
dos teus beijos...
***
Confidências
Finalmente
hoje
segredaste-me
os teus medos;
apareceste-me
melancólico
distante
pensativo...
As tuas águas
quedavam-se
tranquilas
como as águas de
um lago adormecido.
E nesta manhã,
assim tão de azul
vestida,
falaste-me
finalmente
dos teus desencantos...
***
Quando a Noite Vem
Docemente
o Sol
acaricia as
tuas águas
e
indolentemente
deixas-te
embalar
pela melodia
do vento
que canta;
e como um menino
indefeso e frágil
adormeces
quando a noite vem...
***
O Repouso da Flor
Rumores
longínquos
trazem-me
notícias das
tuas profundezas;
e lá
onde a luz
não penetra
e secretos mundos
se ocultam,
jaz uma flor
que entre o
silêncio do
teu seio
encontrou
a eternidade...
***
Mistério
Em teu ser navego
como um barco
perdido
embalada pelo
canto do teu
marulhar...
E é tanto o
encanto
que me tem cativa
que não sei
se sou sonho
ou se estou
a sonhar...
***
in Entre Brumas e Penedios (5 €)
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