Domingo, 3 de Abril de 2016

Apontamentos sobre tauromaquia em São Jorge

 

Como é sabido a Ilha Terceira tem sido ao longo dos tempos o bastião da vil prática de torturar bovinos e o centro irradiador da tauromaquia para outras ilhas do arquipélago, com destaque para as ilhas da Graciosa e São Jorge.

 

Belo Touro.jpeg

Os Touros são bovinos, herbívoros, mamíferos, mansos, animais com um ADN semelhante ao do homem, e não nasceram para divertir sádicos

 

Texto de José Ormonde

 

De acordo com o historiador Pedro de Merelim, a primeira tourada à corda, em São Jorge, realizou-se a 7 de Setembro de 1934, durante as festas de São Mateus da Calheta. Segundo o autor citado: “Os rapazes de S. Jorge apesar de a tal, não estarem habituados, demonstraram arrojo e entusiasmo. José Veríssimo, o Prosa, natural da ilha Terceira, dirigiu a corrida. Gente das freguesias circunvizinhas acorreu, dando ao acontecimento esfusiante alegria. Outras touradas à corda se perspectivaram, para a mesma vila e freguesia da Urzelina”.

 

Com touros vindos da ilha Terceira, em São Jorge começou a prática de desrespeitar animais, de associar as touradas às festas religiosas, sem que a igreja se manifestasse contra aquela prática viciante e que, inclusive, desvia dinheiro dos paroquianos que poderiam reverter para a própria paróquia para os bolsos dos ganadeiros.

 

Depois da introdução da chamada tauromaquia popular, a indústria tauromáquica, que é insaciável em sangue e em dinheiro sem esforço, partiu para a introdução das touradas mais sangrentas para os animais, as de praça. Assim, de acordo com o autor citado, em 1948, “Alfredo Ovelha deslocou-se a S. Jorge, onde foi estudar, sem êxito, a possibilidade de realizar naquela ilha uma tourada de praça.”

 

Mais tarde, em 2005, o Governo Regional dos Açores, presidido por Carlos César, deu uma ajudinha à prática da tortura, através da “cedência, a título definitivo e oneroso, à Tertúlia Tauromáquica Jorgense – Amigos da Festa Brava Jorgense, de dois prédios rústicos sitos ao Pico da Caldeira de São Jorge, freguesia e concelho de Velas, inscritos na matriz predial rústica sob os artigos 2432.º e 1458.º e descritos na competente Conservatória do Registo Predial, respectivamente sob os n.ºs 804 e 608/Velas, ao abrigo do artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 97/70, de 13 de Março, conjugado com o n.º 3 do artigo 5.º do Decreto Legislativo Regional n.º 3/2004/A, de 28 de Janeiro”.

 

De acordo com a Resolução do Conselho do Governo n.º 74/2005 de 19 de Maio de 2005, os terrenos que custaram a quantia irrisória de 6.000 euros e destinavam-se à “construção de uma Escola de Equitação e parque de estacionamento de apoio à Praça de Touros”. Ainda de acordo com a mesma resolução “os terrenos ora cedidos regressam ao património da Região Autónoma dos Açores se lhes for dado fim diferente do assinalado ou em caso de incumprimento das condições da cedência”.

 

A justificação para a cedência dos terrenos é uma autêntica afronta a todas as pessoas que têm e usam o cérebro para pensar. Com efeito, entre as diversas cabeças existentes no Governo Regional dos Açores de então, ninguém viu que era um disparate o seguinte:

 

“Considerando que a Câmara Municipal das Velas classifica a Tertúlia Tauromáquica Jorgense como uma instituição de grande valor no concelho, quer do ponto de vista turístico quer cultural, e que a construção de uma Escola de Equitação se apresenta como um projecto de grande importância.”

 

Quando é que uma instituição que fomenta os maus tratos a animais tem valor cultural? Que turistas vão a São Jorge para assistir à tortura de um animal numa praça de touros? Onde anda a Escola de Equitação? Porque não exige o Governo a devolução dos terrenos ao património da região?

 

 O ano de 2014 foi um ano negro para São Jorge, que se traduziu na morte, perfeitamente evitável, do senhor Horácio Borges numa tourada à corda e num número de feridos que nunca entra nas estatísticas porque há hospitais e centros de saúde e corporações de bombeiros que os escondem.

 

Foi, também, em 2014 que, depois de um interregno, regressaram as touradas de praça, com o ferimento de pelo menos um forcado. Para além do referido, regista-se a falta de vergonha por parte da Tertúlia Tauromáquica Jorgense que pediu o apoio no valor de 35. 000 (trinta e cinco mil euros) para a realização de uma tourada de praça no âmbito da Semana Cultural (?) das Velas.

 

Vergonhosa foi, também, a acção da Câmara Municipal das Velas que atribuiu 3.500 € à referida Tertúlia contra a cedência de 50 bilhetes para a tourada a distribuir por Instituições de Solidariedade Social do Concelho.

 

José Ormonde

2 de Abril de 2016

 

***

(AVISO: uma vez que a aplicação do AO90 é ilegal, em Portugal, este texto foi reproduzido para Língua Portuguesa, via corrector automático)  

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 14:59

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Quarta-feira, 29 de Abril de 2015

A MIOPIA DA REVISTA VISÃO

 

A 19 de Março de 2015, o suplemento Sete da revista Visão, da responsabilidade dos enviados Miguel Judas (Faial, Pico e São Jorge) e Vanessa Rodrigues (Terceira, São Miguel e Santa Maria) apresenta 100 razões para ir aos Açores.

 

Isto será um "divertimento" de gente? 

 

Para além do esquecimento de duas ilhas, Corvo e Flores, a razão número 22 é uma não razão já que se refere ao espectáculo decadente, arcaico e desumano que são as touradas à corda na Ilha Terceira, anualmente são responsáveis por mortos e feridos tanto em bovinos como em seres humanos.

 

Os autores do texto (ou a autora?) possivelmente não tiveram acesso aos vídeos das marradas profundamente difundidas na ilha Terceira e na Internet que mostram a bestialidade e desumanidade da "festa tauromáquica, tradicional dos Açores", nem aos dados dos gastos de saúde derivados das idas e internamentos nos hospitais por causa das touradas à corda e dos apoios, inclusive europeus recebidos pelos criadores de gado bravo, de tal modo que a importância das mesmas é, segundo eles, aferida pela existência de 13 ganadarias registadas.

 

Enfim, é lamentável uma revista conceituada (?) tratar este assunto com uma ligeireza nada digna dos seus “pergaminhos”.

 

Com a minha mais veemente indignação,

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:56

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