Sexta-feira, 24 de Abril de 2020

Em 46 anos desconstruiu-se o país que o "25 de Abril" tentou construir

 

Os governantes pós-25 de Abril mataram a Revolução dos Cravos. Os sucessivos governos, desde então, sufocaram-na com as cordas da corrupção, das vigarices, da roubalheira, do desgoverno, das falsidades, do desleixo, de condutas terceiro-mundistas, de imposições ditatoriais.

E os cravos de Abril murcharam.

 

Portugal desconstruiu-se e, hoje, vive num caos (ainda mais acentuado com a invasão vírica), pendurado no abismo, por um fio de teia de aranha. É a chacota do mundo, que lhe finge amizade, por mero interesse, algo que a cegueira mental não permite vislumbrar.

É urgente uma mudança.

É urgente uma nova Revolução, desta vez, a sério. Sem cravos, sem armas, sem ilusões vãs.

É urgente uma Revolução inteligente, que devolva a Portugal a Dignidade e a Identidade perdidas.

Já não somos Portugal.

 

Agonia Sampaio.png

 

Em 25 de Abril de 1974, um grupo de ousados Capitães, que já estão na História como os Capitães de Abril, abriram uma porta para um futuro que se esperava promissor, sem correntes, sem pides, sem o regime opressivo do Estado Novo, sem mentiras, sem qualquer vestígio do passado, sem censura. Os Capitães de Abril abriram uma porta para as tão ansiadas Democracia e Liberdade.

 

Mas o Poder é uma célula cancerígena corrosiva, que ataca quem ambiciona o Poder apenas pelo Poder. E depressa a ilusão da Democracia e da Liberdade foi abafada pela ganância e pela incompetência dos que iam jurando, por uma honra que neles não habitava, cumprir a missão que lhes era confiada.

 

E Portugal, que se abriu para o futuro, em Abril de 1974, tem vindo a regredir a olhos vistos, e Abril ainda não se cumpriu.

 

O Povo que, por essa altura, estava unido e pensava que jamais seria vencido, foi sub-repticiamente sendo enganado e alienado pelas manobras de diversão que, entretanto, os governantes foram promovendo, com a ajuda de uma comunicação social servilista, até à alienação total.

 

Foi-se desenvolvendo a política do pão e circo, uma política que nasceu no Império Romano, e que consistia no modo como os imperadores romanos lidavam com o Povo, para mantê-lo subjugado à ordem estabelecida e conquistar o seu apoio. A designação panem et circenses, no original em Latim, tem origem na Sátira X de Juvenal, humorista e poeta romano que, no seu contexto original, criticava a falta de informação do povo romano, que não tinha qualquer interesse pelos assuntos políticos, e só se preocupava com o pão para a boca (hoje, dinheiro no bolso) e com o divertimento.

 

Os tempos são outros, mas a política romana mantém-se, e o Povo só sai às ruas por motivos ligados ao vil metal. Os bolsos mais ou menos cheios e o futebol, as novelas, os reality shows de má catadura, mantêm o Povo amansado, alienado, distante do que é essencial, cego aos jogos políticos que se jogam em São Bento, e nos vão afastando da evolução.

 

E com esta política, acolitada pelo mais poderoso veículo de comunicação social, a televisão, instalou-se de tal modo no País, que o Povo acabou por ser vencido, sem se dar conta, por um Poder fantasiado de uma “democracia”, que esconde uma prepotência pior do que a de Oliveira Salazar, porque esse, ao menos, fazia as coisas às claras, e sabíamos com que contar.

 

Sim, podemos dizer que muitas coisas mudaram, depois de 25 de Abril de 1974.

 

Por exemplo, podemos votar livremente e escolher quem queremos que nos desgoverne.

 

Porém, de que serve o voto livre, se a maioria dos votantes não faz a mínima ideia do que faz, porque não é esclarecida? O padre da freguesia diz na missa: votem naqueles, e eles votam naqueles, sem saberem que aqueles vão para o Governo gerir os interesses dos lobbies e não os interesses do Povo, os interesses do País. Por isso, Portugal é, hoje, o paraíso de povos de várias nacionalidades, que aqui se abancam, podem e mandam e têm mais privilégios do que os Portugueses, e os portuguesinhos aceitam isto passivamente, servilmente, humildemente, parvamente, achando que o que é estrangeiro é que é bom, é que é moderno, é que é bué fixe.

 

Para complicar ainda mais as coisas, o Zé Povinho é adepto dos partidos políticos, como se os partidos políticos fossem o clube de futebol dele, portanto, vota nas cores dos partidos da sua predilecção, ainda que os candidatos possam ser incompetentes, corruptos, mentirosos e vigaristas. Mas esta parte não interessa ao Povo.

 

E isto não tem nada a ver com Democracia, mas com cegueira mental, ignorância, alienação, seguidismo.

 

As Democracias só funcionam plenamente quando o Povo é maioritariamente esclarecido, informado, instruído, pensante, dotado de espírito crítico. E não estou a referir-me aos canudos, porque os canudos só dão conhecimento específico em determinadas matérias. Um analfabeto pode ser muito mais esclarecido e informado e educado e pensante e dotado de espírito crítico do que muitos doutores, que por aí andam de gravata ao peito, sendo a gravata a sua única medalha de mérito.

 

Em Democracia, os governantes são meros serviçais do Povo, que lhes paga o salário chorudo que ganham, para (des)governarem o País.

 

Em Democracia, os governantes, sendo nossos serviçais, têm o dever de responder às questões que o Povo lhes coloca, por escrito ou oralmente. Ora acontece que os governantes remetem-se ao silêncio, desprezando os apelos do Povo. Ignorando o Povo. E este desprezo não faz parte da Democracia que, se for verdadeira, o Povo é que é o detentor do Poder.

 

Daí a pergunta: o 25 de Abril entregou-nos uma Democracia a sério?

 

Os cravos de Abril murcharam, e Portugal não avançou para o futuro. Está prisioneiro de políticas retrógradas e de políticos (salvo raras excepções) incompetentes, corruptos, vigaristas, sem honra e sem brio, numa vergonhosa subserviência aos estrangeiros.

 

O Portugal hodierno limita-se a Lisboa, Porto, (e vá lá) Coimbra e ao Algarve, onde quem manda são os estrangeiros. O resto é território terceiro-mundista, nomeadamente o interior do País, onde ainda se vive sem água encanada, sem electricidade, onde ainda se passa fome, na maior miséria. Ao abandono total.

 

Eis o que temos para celebrar na passagem dos 46 anos (já dos 45 foi mais do mesmo)  do 25 de Abril (que os servilistas grafam “25 de abril”):

 

- Um país, onde ainda se continua a viver em pobreza extrema, com crianças e idosos a passarem fome.

- Um país, que continua a ter a maior taxa de analfabetismo da Europa.

- Um país dos que menos gasta na Saúde, com um Serviço Nacional de Saúde caótico, onde falta quase tudo, e o aumento da Tuberculose diz do subdesenvolvimento, do retrocesso e da miséria que ainda persistem por aí.

- Um país que empurra para o estrangeiro os seus jovens mais habilitados: enfermeiros, médicos, engenheiros, investigadores, artistas.

- Um país com o terceiro pior crescimento económico da Europa.

-  Um país com a 3ª maior dívida pública da União Europeia.

- Um país cheio de desigualdades sociais, onde os ricos são cada vez mais ricos, e os pobres, cada vez mais pobres.

- Um país cheio de banqueiros e outros que tais ladrões.

- Um país cheio de berardos a jogar ao gato e ao rato com o dinheiro do Povo.

- Um país onde a Justiça ainda é extremamente cara, desigual, lenta e injusta.

- Um país que promove a violência contra animais não-humanos, o que por sua vez gera a violência contra os seres humanos.

- Um país com um elevado índice de violência doméstica.

- Um país com um elevadíssimo número de crianças e jovens em risco.

- Um país que atira crianças para arenas de tortura de animais, e permite que sejam iniciadas em práticas violentas e cruéis, roubando-lhes um desenvolvimento normal e saudável, o que constitui um crime de lesa-infância.

- Um país cheio de grupos e grupelhos de trabalho, de secretários, de secretários de secretários, de assessores, de secretários de assessores, de comissões, de subcomissões, que não servem absolutamente para nada, a não ser para ganharem salários descondizentes com os serviços que (não) prestam; e com ex-presidentes da República com gabinetes e mordomias.

- Um país que descura a sua Flora e a sua Fauna, mantendo uma e outra ao abandono e à mercê de criminosos impuníveis.

- Um país que mantém as Forças de Segurança instaladas em edifícios a caírem de podres, e com falta de quase tudo.

- Um país onde ainda existem Escolas com instalações terceiro-mundistas, sem as mínimas condições para serem consideradas um lugar de aprendizagem; e com tribunais, como o de Monsanto, que parece um galinheiro ao abandono.

- Um país onde as prisões são lugares de diversão, com direito a vídeos publicáveis no Facebook.

- Um país cheio de leis e leizinhas retrógradas, que não servem para nada, a não ser para servir lobbies dos mais hediondos, e proteger criminosos impuníveis.

- Um país que não promove a Cultura Culta, e para o qual apenas a cultura inculta conta, e é assegurada, contra tudo e contra todos.

- Um país, cujo Sistema de Ensino é dos mais caóticos, desde a implantação da República, com a agravante de se estar a enganar as crianças com a obrigatoriedade da aprendizagem de uma ortografia que não é a portuguesa, a da Língua Materna delas, estando-se a incorrer num crime de lesa-infância.

- Um país, que tinha uma Língua Culta e Europeia, e hoje tem um arremedo de língua, uma inconcebível mixórdia ortográfica, imposta ditatorialmente por políticos pouco ou nada esclarecidos e servilistas, que estão a fabricar, conscientemente, os futuros analfabetos funcionais, e a promover a iliteracia. E já sou poucos os que escrevem correctamente a sua Língua Materna.

- Um país onde, parvamente, se começou a dizer “olá a todos e a todas, amigos e amigas, portugueses e portuguesas”.

- Um país, com um presidente beijoqueiro e viciado em selfies, e um primeiro-ministro que não tem capacidade para ver o visível, muito menos o invisível, que qualquer cego, de nascença, vê à primeira vista.

- Um país, que em 2018/2019 foi marcado por uma constante contestação social, com o número mais elevado de sempre de greves em todos os sectores da sociedade portuguesa, número que continuaria a aumentar no corrente ano não fosse a invasão invisível do coronavírus.

- Enfim, um País que perdeu o rumo, e faz de conta que é um país. E amanhã, contra tudo e contra todos, e violando o Estado de Emergência em que Portugal está mergulhado, os governantes irão dar um mau exemplo ao País, com a ilusão de que estarão a celebrar o 25 de Abril, que ainda não se cumpriu inteiramente.

 

Enquanto tudo isto (e muito mais, que agora não me ocorre) não sair da lista do que não se quer para um País de Primeiro Mundo, evoluído e civilizado, o que há para comemorar neste 25 de Abril?

 

Há o facto de eu poder escrever este texto, sem ir parar ao Campo de Concentração do Tarrafal, o campo da morte lenta, para onde os médicos iam assinar certidões de óbito e não curar, criado pelo Estado Novo, na ilha de Santiago, Cabo Verde, num lugar ironicamente chamado de Chão Bom, de muito má memória.

 

Isabel A. Ferreira



***

Para complementar este texto, leia-se este outro, da autoria de Manuel Damas, publicado no Facebook, em 24 de Abril do ano passado, mas que poderia ter sido escrito hoje, e faço minhas todas as palavras que Manuel Damas escreveu.

 

45 anos depois...

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=2332540223434593&set=a.133659383322699&type=3&theater

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 19:17

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Quarta-feira, 24 de Abril de 2019

Em 45 anos desconstruiu-se o país que o "25 de Abril" tentou construir

 

Os governantes pós-25 de Abril mataram a Revolução dos Cravos. Os sucessivos governos, desde então, sufocaram-na com as cordas da corrupção, das vigarices, da roubalheira, do desgoverno, das falsidades, do desleixo, de condutas terceiro-mundistas, de imposições ditatoriais.

E os cravos de Abril murcharam.

Portugal desconstruiu-se e hoje vive num caos, pendurado no abismo, por um fio de teia de aranha. É a chacota do mundo, que lhe finge amizade, por mero interesse, algo que a cegueira mental não permite vislumbrar.

É urgente uma mudança.

É urgente uma nova Revolução, desta vez, a sério. Sem cravos, sem armas, sem ilusões vãs.

É urgente uma Revolução inteligente, que devolva a Portugal a Dignidade e a Identidade perdidas.

Já não somos Portugal.

 

25 de Abril.png

 

Em 25 de Abril de 1974, um grupo de ousados Capitães, que já estão na História como os Capitães de Abril, abriram uma porta para um futuro que se esperava promissor, sem correntes, sem pides, sem o regime opressivo do Estado Novo, sem mentiras, sem qualquer vestígio do passado. Os Capitães de Abril abriram uma porta para as tão ansiadas Democracia e Liberdade.

 

Mas o Poder é uma célula cancerígena corrosiva, que ataca quem ambiciona o Poder apenas pelo Poder. E depressa a ilusão da Democracia e da Liberdade foi abafada pela ganância e pela incompetência dos que iam jurando, por uma honra que neles não habitava, cumprir a missão que lhes era confiada.

 

E Portugal, que se abriu para o futuro, em Abril de 1974, tem vindo a regredir a olhos vistos, e Abril ainda não se cumpriu.

 

O Povo que, por essa altura, estava unido e pensava que jamais seria vencido, foi sub-repticiamente sendo enganado e alienado pelas manobras de diversão que, entretanto, os governantes foram promovendo, com a ajuda de uma comunicação social servilista, até à alienação total.

 

Foi-se desenvolvendo a política do pão e circo, uma política que nasceu no Império Romano, e que consistia no modo como os imperadores romanos lidavam com o Povo, para mantê-lo subjugado à ordem estabelecida e conquistar o seu apoio. A designação panem et circenses, no original em Latim, tem origem na Sátira X de Juvenal, humorista e poeta romano que, no seu contexto original, criticava a falta de informação do povo romano, que não tinha qualquer interesse pelos assuntos políticos, e só se preocupava com o pão para a boca (hoje, dinheiro no bolso) e com o divertimento.

 

Os tempos são outros, mas a política romana mantém-se, e o Povo só sai às ruas por motivos ligados ao vil metal. Os bolsos mais ou menos cheios e o futebol, as novelas, os reality shows de má catadura, mantêm o Povo amansado, alienado, distante do que é essencial, cego aos jogos políticos que se jogam em São Bento, e nos vão afastando da evolução.

 

E com esta política, acolitada pelo mais poderoso veículo de comunicação social, a televisão, instalou-se de tal modo no País, que o Povo acabou por ser vencido, sem se dar conta, por um Poder fantasiado de uma “democracia”, que esconde uma prepotência pior do que a de Oliveira Salazar, porque esse, ao menos, fazia as coisas às claras, e sabíamos com que contar.

 

Sim, podemos dizer que muitas coisas mudaram, depois de 25 de Abril de 1974.

 

Por exemplo, podemos votar livremente e escolher quem queremos que nos desgoverne.

 

Porém, de que serve o voto livre, se a maioria dos votantes não faz a mínima ideia do que faz, porque não é esclarecida? O padre da freguesia diz na missa: votem naqueles, e eles votam naqueles, sem saberem que aqueles vão para o Governo gerir os interesses dos lobbies e não os interesses do Povo, os interesses do País. Por isso, Portugal é, hoje, o paraíso de povos de várias nacionalidades, que aqui se abancam, podem e mandam e têm mais privilégios do que os Portugueses, e os portuguesinhos aceitam isto passivamente, servilmente, humildemente, parvamente, achando que o que é estrangeiro é que é bom, é que é moderno, é que é bué fixe.

 

Para complicar ainda mais as coisas, o Zé Povinho é adepto dos partidos políticos, como se os partidos políticos fossem o clube de futebol dele, portanto, vota nas cores dos partidos da sua predilecção, ainda que os candidatos possam ser incompetentes, corruptos, mentirosos e vigaristas. Esta parte não interessa ao Povo.

 

E isto não tem nada a ver com Democracia, mas com cegueira mental, ignorância, alienação, seguidismo.

 

As Democracias só funcionam plenamente quando o Povo é maioritariamente esclarecido, informado, instruído, pensante, dotado de espírito crítico. E não estou a referir-me aos canudos, porque os canudos só dão conhecimento específico em determinadas matérias. Um analfabeto pode ser muito mais esclarecido e informado e instruído e pensante e dotado de espírito crítico do que muitos doutores, que por aí andam de gravata ao peito, sendo a gravata a sua única medalha de mérito.

 

Em Democracia, os governantes são meros serviçais do Povo, que lhes paga o salário chorudo que ganham, para (des)governarem o País.

 

Em Democracia, os governantes, sendo nossos serviçais, têm o dever de responder às questões que o Povo lhes coloca, por escrito ou oralmente. Ora acontece que os governantes remetem-se ao silêncio, desprezando os apelos do Povo. Ignorando o Povo. E este desprezo não faz parte da Democracia que, se for verdadeira, o Povo é que é o detentor do Poder.

 

Daí a pergunta: o 25 de Abril entregou-nos uma Democracia a sério?

 

Os cravos de Abril murcharam, e Portugal não avançou para o futuro. Está prisioneiro de políticas retrógradas e de políticos incompetentes, corruptos, vigaristas, sem honra e sem brio, numa vergonhosa subserviência aos estrangeiros.

 

O Portugal hodierno limita-se a Lisboa, Porto, (e vá lá) Coimbra e ao Algarve, onde quem manda são os estrangeiros. O resto é território terceiro-mundista, nomeadamente o interior do País, onde ainda se vive sem água encanada, sem electricidade, onde ainda se passa fome, na maior miséria. Ao abandono total.

 

Eis o que temos para celebrar na passagem dos 45 anos do 25 de Abril (que os servilistas grafam “25 de abril”):

 

- Um país, onde ainda se continua a viver em pobreza extrema, com crianças e idosos a passarem fome.

- Um país, que continua a ter a maior taxa de analfabetismo da Europa.

- Um país dos que menos gasta na Saúde, com um Serviço Nacional de Saúde caótico, onde falta quase tudo, e o aumento da Tuberculose diz do subdesenvolvimento, do retrocesso e da miséria que ainda persistem por aí.

- Um país que empurra para o estrangeiro os seus jovens mais habilitados: enfermeiros, médicos, engenheiros, investigadores, artistas.

- Um país com o terceiro pior crescimento económico da Europa.

-  Um país com a 3ª maior dívida pública da União Europeia.

- Um país cheio de desigualdades sociais, onde os ricos são cada vez mais ricos, e os pobres, cada vez mais pobres.

- Um país cheio de banqueiros e outros que tais ladrões.

- Um país cheio de berardos a jogar ao gato e ao rato com o dinheiro do Povo.

- Um país onde a Justiça ainda é extremamente cara, desigual, lenta e injusta.

- Um país que promove a violência contra animais não-humanos, o que por sua vez gera a violência contra os seres humanos.

- Um país com um elevado índice de violência doméstica.

- Um país com um elevadíssimo número de crianças e jovens em risco.

- Um país que atira crianças para arenas de tortura de animais, e permite que sejam iniciadas em práticas violentas e cruéis, roubando-lhes um desenvolvimento normal e saudável, o que constitui um crime de lesa-infância.

- Um país cheio de grupos e grupelhos de trabalho, de secretários, de secretários de secretários, de assessores, de secretários de assessores, de comissões, de subcomissões, que não servem absolutamente para nada, a não ser para ganharem salários descondizentes com os serviços que (não) prestam.

- Um país que descura a sua Flora e a sua Fauna, mantendo uma e outra ao abandono e à mercê de criminosos impuníveis.

- Um país que mantém as Forças de Segurança instaladas em edifícios a cairem de podres, e com falta de quase tudo.

- Um país onde ainda existem Escolas com instalações terceiro-mundistas, sem as mínimas condições para serem consideradas um lugar de aprendizagem.

- Um país onde as prisões são lugares de diversão, com direito a vídeos publicáveis no Facebook.

- Um país cheio de leis e leizinhas retrógradas, que não servem para nada, a não ser para servir lobbies dos mais hediondos, e proteger criminosos impuníveis.

- Um país que não promove a Cultura Culta, e para o qual apenas a cultura inculta conta, e é assegurada, contra tudo e contra todos.

- Um país, cujo Sistema de Ensino é dos mais caóticos, desde a implantação da República, com a agravante de estar a enganar-se as crianças com a obrigatoriedade da aprendizagem de uma ortografia que não é a portuguesa, a da Língua Materna delas, estando-se a incorrer num crime de lesa-infância.

- Um país, que tinha uma Língua Culta e Europeia, e hoje tem um arremedo de língua, uma inconcebível mixórdia ortográfica, imposta ditatorialmente por políticos ignorantes e servilistas, que estão a fabricar, conscientemente, os futuros analfabetos funcionais, e a promover a iliteracia. E já sou poucos os que escrevem correctamente. 

- Um país onde, parvamente, se começou a dizer “olá a todos e a todas”.

- Um país, com um presidente beijoqueiro e viciado em selfies, e um primeiro-ministro que não tem capacidade para ver o visível, muito menos o invisível, que qualquer cego, de nascença, vê à primeira vista.

- Um país, que em 2018 foi marcado por uma constante contestação social, com o número mais elevado de sempre de greves em todos os sectores da sociedade portuguesa, número que continua a aumentar no corrente ano.

- Enfim, um País que perdeu o rumo, e faz de conta que é um país.

 

Enquanto tudo isto (e muito mais, que agora não me ocorre) não sair da lista do que não se quer para um País de Primeiro Mundo, evoluído e civilizado, o que há para comemorar neste 25 de Abril?

 

Há o facto de eu poder escrever este texto, sem ir parar ao Campo de Concentração do Tarrafal, o campo da morte lenta, para onde os médicos iam assinar certidões de óbito e não curar, criado pelo Estado Novo, na ilha de Santiago, Cabo Verde, num lugar ironicamente chamado de Chão Bom, de muito má memória.

 

Isabel A. Ferreira

***

Para complementar este texto, leia-se este outro, da autoria de Manuel Damas, publicado no Facebook:

 

45 anos depois...

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publicado por Isabel A. Ferreira às 19:04

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Terça-feira, 5 de Junho de 2018

A política corrompe o homem

 

Temos um País onde a vontade do Estado não corresponde à vontade do Povo - um Povo que se habituou a tal realidade é autista, não se apercebe dos seus direitos e deveres.

 

Estado, na sua definição mais comum, é uma organização politicamente organizada, com legislação própria, e de que o povo faz parte integrante. Por outras palavras, o Estado somos todos nós. Neste caso, é a vontade dos governantes que não corresponde à vontade de um povo que, em parte, se acomoda e adormece.

 

Arte política.png

 

Porém, a política, fatalmente, corrompe os homens!

 

Devia ser obrigatório, os candidatos a políticos tirarem um curso onde aprendessem a Arte de Bem Fazer Política, e estudassem os grandes pensadores da Política, e História das Teorias Políticas.

 

São raríssimos aqueles que, tendo assento na Assembleia da República, conhecem a Arte de Bem Fazer Política, e o verdadeiro sentido de Democracia.

 

A esmagadora maioria dos deputados da Nação deixa-se manipular pelos lobbies, que lhes dão vantagens pessoais, e nada mais ali estão a fazer do que isso. Dá-nos a sensação de que são escolhidos a dedo, para servirem os lobbies e não os reais interesses de Portugal e dos Portugueses.

 

É preciso que o Povo acorde!

 

É preciso uma nova revolução, e essa revolução só poderá ser feita através do VOTO em grande escala.

 

Nas próximas eleições legislativas é preciso MUDAR O RUMO DE PORTUGAL.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 14:07

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Quarta-feira, 25 de Abril de 2018

Que liberdade celebramos no "Dia da Liberdade"?

 

Quando, em Portugal, se celebra o 25 de Abril, inevitavelmente, alia-se a Liberdade à revolução dos Capitães de Abril

 

Mas saber-se-á o que é a Liberdade?

 

Que conceito de liberdade ensinam às nossas crianças, nas escolas, a propósito desta revolução que libertou Portugal da ditadura salazarista?

 

LIBERDADE.jpg

(Origem da imagem: Internet)

 

Foi com grande estupefacção e uma certa revolta que ouvi um menino de uma escola que celebrava o 25 de Abril, responder à pergunta do jornalista «sabes o que é a liberdade?», e ele responder inocentemente «liberdade é quando fazemos tudo o que queremos».

 

É isto que têm para ensinar às crianças? A Liberdade limitar-se-á a fazer o que queremos? É este conceito de Liberdade que se tem por aí?

 

Foi este erro crasso, este pensar deturpado, este saber apoucado, que adiou o 25 de Abril, porque o objectivo dos Capitães de Abril, passados 44 anos, ainda não foi atingido.

 

Hoje, o que há para comemorar é a libertação de Portugal, do jugo de uma ditadura que nos tolhia as acções (mas não os pensamentos, obviamente de quem os tinha).

 

Liberdade é outra coisa.

 

Liberdade não é fazermos tudo o que queremos.

 

Liberdade é sermos responsáveis por todos os nossos actos; é viver a vida de acordo com a nossa consciência; é ter a noção de que a nossa Liberdade acaba, quando a de todos os outros começa; é cumprir justamente os nossos deveres cívicos; mas é também estar ciente dos nossos direitos; é ser justo, é ser amável; é saber honrar o nosso País, os nossos antepassados, a nossa História, a nossa Língua Materna; é saber respeitar quem merece respeito; é saber distinguir o trigo do joio; é não rastejarmos quando temos asas no pensamento; é recusarmo-nos a seguir leis injustas; é dizer não à ignomínia; enfim, Liberdade é não fazer aos outros o que não gostamos que nos façam a nós, englobando nestes “outros” todas as criaturas que connosco partilham o Planeta e o próprio Planeta, que dever ser preservado justamente pela nossa Liberdade de nele sabermos como viver.

 

E como se adquire esta Liberdade? Unicamente através da Cultura e do Saber, algo que tem sido negligenciado pelos sucessivos governos de Portugal.

 

Porque aos governantes, ainda que se digam de esquerda (os de direita já sabemos o que pensam a este respeito) mas aos de esquerda também não convém um povo culto, instruído, com juízo crítico. Quanto mais ignorante for um povo, mais submisso ao Poder ele será.

 

E a Revolução de Abril não trouxe aos Portugueses a Cultura e o Saber que lhes daria a verdadeira Liberdade.

 

O 25 de Abril deu-lhes apenas a libertação do jugo ditatorial salazarista, e substituiu-o pelo jugo de uma ditadura esquerdina, (porque ser de esquerda também é outra coisa), que mantém Portugal, se não de todo ainda amordaçado, a andar para trás como o caranguejo.

 

Conclusão: continuamos mal.

 

Precisamos de ressuscitar o 25 de Abril e aprender a verdadeira Liberdade.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:54

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Terça-feira, 12 de Setembro de 2017

VENCEREMOS!

 

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 É deste modo, livres e em harmonia, que os Touros e Cavalos devem viver. Não nasceram para servir predadores com forma humana e de baixos instintos.

 

Sei que o meu País atravessa um momento onde o caos se instalou, a todos os níveis.

 

Sei que no meu país, existe uma descomunal miséria moral, cultural, social e educacional, avalizada pelos governantes.

 

Sei que a corrupção e o desgoverno imperam ao mais alto nível.

 

Sei que somos roubados descaradamente.

 

Sei que somos vilipendiados nos nossos mais básicos direitos.

 

Sei que os “políticos” são cegos e surdos aos apelos racionais do povo que os elegeu.

 

Sei que entre o povo que se faz de vítima, estão os principais cúmplices e culpados da situação caótica que o nosso País vive.

 

Sei que aos governantes não interessa um povo que pensa, por isso promove a incultura.

 

Sei que o nosso País precisa de uma Revolução a sério, que derrube os corruptos e os vendilhões da Pátria.

 

Sei que uma minoria inculta e abroeirada manipula descaradamente os partidos políticos de maioria que, despudoradamente, se deixam manipular.

 

Sei que essa maioria parlamentar não merece consideração, porque não se dá ao respeito.

 

Sei que a política praticada em Portugal, desde Lisboa aos municípios (com raríssimas excepções) é suja, é podre, é obsoleta, é madrasta, é obscura.

 

Sei que da política e dos políticos fiquei farta, fartíssima, depois de tantos anos a lidar com eles, e conhecer-lhes todas as manhas e artimanhas.

 

Por isso, um dia decidi emprestar a minha voz aos que não têm voz, e entrei numa “guerra” de muitas batalhas, e nela, desde então, continuo firmemente de pé, com as palavras em riste (a minha arma) apontadas para os inimigos dos que decidi defender, apesar de todas as ameaças, apesar das agressões verbais, apesar das dificuldades, apesar dos obstáculos. Isto é como caminhar num mar de estrume.

 

Sei que a selvajaria tauromáquica está pendurada por um fio no meio de um abismo.

 

Está acabada. Ultrapassada. A cair de podre. De velha. Desadequada aos tempos modernos.

 

Mas falta enterrá-la debaixo de uma lei oficial.

 

E para tal, os Touros e os Cavalos precisam de todas as vozes.

 

Não haverá muito mais para dizer.

 

Mas há algo que ainda é necessário fazer: derrubar as mentes velhas, encerrar as escolas de toureio, desmoralizar os aficionados, marginalizar os sádicos, boicotar os seus apoiantes, desfazer o nó entre os governantes e os tauricidas, destruir os falaciosos mitos tauromáquicos, enfim, fechar o cerco a esta minoria sanguinária que anda por aí, em bicos de pés, a tentar segurar um cadáver putrefacto.

 

É preciso um pouco mais de empenho.

 

Travamos a batalha final.

 

É urgente que todas as vozes abolicionistas se ergam para esmagar os últimos “olés” sussurrados, já sem força, que ainda se ouvem por aí…

 

VENCEREMOS! VENCEREMOS! VENCEREMOS!

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:27

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Sexta-feira, 12 de Dezembro de 2014

A MELHOR NOTÍCIA DO ANO PARA OS ANIMAIS… NO MÉXICO… EM PORTUGAL O ATRASO DE VIDA AINDA É GRANDE…

 

 

(Se bem que falta estender esta liberdade aos Touros, que também são animais no México, como em qualquer parte do mundo)…

 

ANIMA NATURALIS.jpg

 

«Conseguimos!

 

A alegria inunda-nos. Depois de dois anos de trabalho conseguimos que o México proíba os circos com animais selvagens em todo o país.

 

Esta é a melhor notícia do ano para os animais.

 

Acabaram-se as jaulas, a tortura, o cativeiro, o maltrato…

 

Acabou-se uma vida de escravidão para milhares de animais.

 

Conseguimos fazer história.

 

Mas necessitamos de continuar.

 

É o momento de unir as nossas vozes, mais alto do que nunca.

 

Por todos eles, pela libertação deles.

 

Os animais necessitam da nossa ajuda para conseguirem o fim dos maus tratos, do cativeiro e da exploração.

 

Agora não podemos parar.

 

Temos de continuar a somar vitórias todos juntos.

 

A vossa ajuda é imprescindível.

 

Juntam-se à nossa revolução?

 

Somos a esperança de todos os animais

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 14:37

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Quinta-feira, 10 de Abril de 2014

Desabafo de uma Abolicionista

 
 
 
 
 

Sei que o meu País atravessa um momento difícil, onde o caos se instalou a todos os níveis, devido à incompetência dos governantes.

 

Sei que somos desgovernados por corruptos.

 

Sei que somos roubados descaradamente.

 

Sei que somos vilipendiados nos nossos mais básicos direitos.

 

Sei que os “políticos” que temos são surdos aos apelos que fazemos.

 

Sei que entre o povo que se faz de vítima, estão os principais cúmplices e culpados da situação caótica que o nosso País vive.

 

Sei que os governantes não gostam de um povo que pensa, por isso promove a incultura.

Sei que os governantes gostam de um povo submisso, daí não investirem no Ensino, na Educação e na Cultura.

 

Sei que o nosso País precisa de uma Revolução séria, que derrube esses corruptos.

 

Sei que uma minoria inculta manipula descaradamente a maioria parlamentar que despudoradamente se deixa manipular.

 

Sei que essa maioria parlamentar não merece consideração, porque não se dá ao respeito.

 

Sei que a política praticada em Portugal, desde Lisboa aos municípios (com raríssimas excepções) é suja, é podre, é antiquada, é madrasta, é coisa para deitar ao lixo.

 

Sei que da política e dos políticos fiquei farta, fartíssima, depois de tantos anos a lidar com eles, e conhecer-lhes, por dentro e por fora, as manhas e artimanhas.

 

Por isso, um dia decidi emprestar a minha voz aos que não têm voz, e entrei numa “guerra” de muitas batalhas, e nela, desde então, continuo firmemente de pé, com as palavras em riste (a minha arma) apontadas para os inimigos dos que decidi defender, apesar das ameaças de morte, apesar das dificuldades, apesar dos obstáculos, apesar do processo judicial que me foi movido…  

 

Sei que a tourada está oficiosamente abolida.

 

Está acabada. A cair de podre. De velha. Ultrapassada. Desactualizada. Marginalizada. Morta.

 

Mas falta enterrá-la debaixo de uma lei oficial.

 

E para tal, os Touros e os Cavalos precisam de todas as vozes.

 

Não haverá muito mais para dizer. Já foi tudo dito, tudo esmiuçado, tudo mencionado ao pormenor.

 

Só não aprendeu sobre tauromaquia, quem optou por ficar ignorante.

 

Mas há algo que ainda é necessário fazer: derrubar as mentes velhas, encerrar as escolas de toureio, desmoralizar os aficionados, marginalizar os sádicos, boicotar os apoiantes, desfazer o nó entre os governantes e os tauricidas, enfim, fechar o cerco a esta minoria sanguinária que anda por aí, em bicos de pés, a tentar segurar um cadáver.

 

Travamos a batalha final.

 

É urgente que todas as vozes abolicionistas se ergam para esmagar os últimos “olés” que ainda se ouvem por aí…

 

Venceremos, amigos Touros. Venceremos!



Isabel A. Ferreira

 
 
 
publicado por Isabel A. Ferreira às 18:56

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Terça-feira, 11 de Março de 2014

A ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA PORTUGUESA DEVIA SER CONSTITUÍDA POR CATARINAS MARTINS, HELOÍSAS APOLÓNIAS E PEDROS FILIPES SOARES

 

Explico porquê.

Não só por defenderem, com convicção e garra, medidas que beneficiam o povo português, portanto, os Direitos das Mulheres, dos Homens, das Crianças e dos Idosos, sem se vergarem a lobbies, como por defenderem a Cultura Culta Portuguesa e também os Direitos dos Animais

 

 

Lamento o facto de estes deputados estarem ligados a partidos políticos que estão em minoria no Parlamento, devido em parte à cegueira do povo português e do seu comodismo, que incomoda, e que o leva a ir votar irracionalmente, sempre nos mesmos.

 

 

Admiro estes deputados pela capacidade de raciocínio, lucidez, inteligência e coragem com que enfrentam uma maioria predadora de direitos e pouco perspicaz, que se verga a todo o tipo de lobbies.

 

 

Os deputados da Assembleia da República foram eleitos para servirem as maiorias, e não as minorias. Foram eleitos para servirem os interesses de Portugal e não os interesses de grupos de pressão. 

 

 

Os deputados da Assembleia da República são servidores do povo, pagos com dinheiros do povo, e os dinheiros do povo não podem ir para bolsos de particulares, nem servem para defender os interesses de minorias.

 

 

 

Nunca tivemos um governo que governasse tão mal. Estamos numa ditadura disfarçada de democracia, onde uma minoria de deputados é esclarecida mas não chega para derrubar a falta de lucidez da maioria.

 

 

Portanto, e chegada a hora de dizer BASTA! O povo português tem de acordar, e das duas, uma: ou faz-se uma nova revolução, ou muda-se o seu sentido de voto. Votar sempre nos mesmos é o mesmo que pretender afundar Portugal num abismo.

 

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:53

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Quinta-feira, 7 de Maio de 2009

«O Tormento de Deus»

 

Copyright © Isabel A. Ferreira 2009
 
 
 
 
 Lá... entre o Bosque e o Riacho, onde Deus vive...
Imagem do Monsterio de Santa María de Oseira (Oseira- Ourense)
 
 
Tudo começou com um convite de Manuel Ferreira Lopes*:

«Não gostaria de visitar o Mosteiro Cisterciense de Oseira, em Ourense, entre a montanha dourada dos carvalhais galegos, onde se respira a espiritualidade dos monges brancos que o habitam?»
 
Não hesitei. Como poderia eu recusar a oportunidade de fugir da selva de cimento e da incivilização que a caracteriza, e embrenhar-me num bosque, algures entre as montanhas, onde os riachos cantam como as aves; onde a vida se renova, em cada madrugada; onde as velhas pedras conservam o segredo dos tempos e a memória dos homens?...
 
A principal razão desta minha primeira visita a Oseira foi a de contactar a comunidade dos monges brancos e dela dar conhecimento, podendo com isso, despertar, porventura, novas vocações entre os jovens portugueses, para que seja possível activar um mosteiro cisterciense, no nosso país, onde existem tantos mosteiros em ruínas, ao contrário (para não ir mais longe) do nosso país irmão: a Espanha.
 
Estávamos em 1992.
Gostaria hoje de reviver o Encontro e a Descoberta, que fiz então, pois em tudo (como sempre) pensou Manuel Lopes, ao dar-me a conhecer a existência do Mosteiro de Oseira, cravado nos montes da Galiza.
 
Falar de Deus ou das coisas de Deus é concebível apenas quando nos abstraímos do mundo materialista tal como ele se nos apresenta hoje: vazio do tão necessário espiritualismo que nos conduz ao Supremo Ser, ao Criador de todas as coisas – visíveis e invisíveis.
 
Quem ainda não se deu conta de que Darwin começou o estudo da sua teoria da evolução, a partir precisamente do ponto em que Deus deu por terminada a Sua intervenção na criação do Universo?
 
Esse espiritualismo não o encontro eu nos templos que por aí abundam, onde o mundanismo, o materialismo e um exacerbado consumismo imperam, esvaziando toda a essência divina do sentimento religioso.
 
Deus, encontrei-O eu em Oseira, no sorriso dos seus monges; na sua simplicidade; na sua bondade; no seu labor de cada dia; nas suas orações; nos seus cânticos gregorianos; nos seus rituais litúrgicos; no seu absoluto despojamento das coisas supérfluas; na vida contemplativa que escolheram viver.
 
Deus, encontrei-O eu entre as velhas pedras do Mosteiro, resgatado das cinzas pelos próprios monges; nas águas cantantes do riacho que o contorna; no bosque dourado que lhe dá a sombra; nos prados verdes, onde tranquilamente o gado pasta; nas montanhas que o protegem dos ventos agrestes; e do silêncio que nos abraça com ternura.
 
Na verdade, estes monges cistercienses, afectos a São Bernardo, um dos reformadores da Ordem de Cister, representam os mais preciosos valores de que este nosso mundo conturbado necessita para sobreviver, segundo as regras humanas.
 
Com eles os crentes fortalecem a sua fé, e os não crentes são seduzidos por uma luz tentadora; pela profunda espiritualidade que deles emana, e por um silêncio que, inevitavelmente, nos catapulta para um mundo que não o terreno.
 
E foi lá, no seio daqueles monges brancos, entre o bosque e o riacho que, naquele tempo, encontrei Deus, há muito perdido de mim.
 
 
Depois de ter assistido ao Ofício de Completas, à hora em que os monges celebram o cair da noite e o fim de um dia de labor, e, solenemente, entoam a Salvé Cisterciense, numa cerimónia que remonta ao Século XIII, colocando nas mãos da Santíssima Virgem o mérito de uma vida de total consagração a Deus; e antes de me recolher, Manuel Lopes, discretamente, levou-me para um canto do claustro e ofereceu-me um pequeno livro, para ler antes de adormecer, com a seguinte dedicatória: «À Isabel Ferreira, esta leitura elegíaca da tranquilidade espiritual que buscamos neste lugar de criativo e dulcificante silêncio…»
 
Foi então que descobri o poeta Alain Bosquet, no Mosteiro de Oseira, entre o conforto simples, despojado de luxo, da cela n.º 17, envolvida pelo místico silêncio, que aquelas velhas pedras tornam ainda mais misterioso.
 
«O Tormento de Deus» – assim se chamava o livro de poemas, que tinha entre as mãos, numa edição precisamente daquele ano, 1992, da Quetzal Editores.
 
Hoje, posso afirmar com grande lucidez, que nenhuma outra leitura poderia ter sido mais oportuna do que esta, àquela hora e naquele lugar. Tão bem o sabia Manuel Lopes!
 
Deus disse: Se tal vos repugna,
não acrediteis em mim,
mas ficaria feliz
se encontrásseis algum encanto
num ou noutro ser da minha lavra:
o búzio, onde dorme a música,
o plátano, que cresce para lá das estrelas,
o mar, que diz cem vezes: «Eu sou o mar».
Sinto-me muito humilde:
O meu universo não é mais belo
do que um poema perdido.
 
Eu acabara de descobrir um Poeta.
Um poeta que me falava do tormento de Deus – o ser mais solitário entre todos os seres que Ele próprio criou:
 
«Estou triste», disse Deus,
«por ter nascido adulto.
Jamais tive uma infância
nem alguma vez me permitiram
a descoberta de um mundo
já formado.
Não encontrei ninguém
a quem dizer: “Bom dia, meu pai!”
Nem “Minha mãe, como é que tem passado?”
Não me sinto sem culpa.
Todos eles – o sílex, a lava, a peónia,
o mosquito, o homem, o zéfiro,
exigiam que eu fosse activo e responsável.
Estou triste:
Falta-me um passado.»
 
Descobri um Poeta que me falava de um Deus inseguro:
 
Deus disse: «Entre mim mesmo e eu,
sinto que falta 
uma espécie de doçura;
eis porque improviso um colibri,
algum orvalho,
uma ligeiríssima ilha,
um cântico de amor e um sonho intermitente
onde se passeia um outro deus.»
 
Descobri um Poeta, que ao falar do tormento de Deus, me falava do seu próprio tormento:
 
O homem queixa-se:
«Tu deste-me um corpo
mais pequeno que o corpo da montanha.
Deste-me um cérebro
com que não posso compreender-me.
Deste-me um coração
que não serve para me aceitar.
Deste-me palavras,
que são um luxo na minha desordem.
Deste-me um deus
o qual não sei quem é, se eu, se tu.»
 
E foi assim que, num mesmo dia, conheci os monges brancos de Oseira, que me devolveram a crença numa espiritualidade que eu julgava perdida; tive um encontro com Deus, entre aquelas velhas pedras do Mosteiro, rodeadas pelo riacho, o bosque, os prados e a montanha; e descobri um Poeta, no silêncio da cela onde pernoitei.
 
E o mundo pareceu-me então feito à medida da minha compreensão.
 
 
Hoje, «O Tormento de Deus» acompanha-me, para onde quer que eu vá.
É um livro de uma erudição belíssima, independentemente de se crer ou não em Deus. A sua leitura serena as nossas inquietações.
 
O seu tradutor (um excelente tradutor), Jorge Guimarães, diz de Alain Bosquet, na introdução: «A ideia de Deus habita esse espírito tanto no temor, como no ódio, como na indiferença». Bosquet «improvisa, discorre, ironiza, perdoa, comove-se e exalta-se, e tudo na mesma palavra, e tudo no mesmo olhar».
 
As palavras de Bosquet deslizam serenamente pela nossa alma e diz-nos da dimensão do imensurável… E Deus disse ao seu poeta:
 
«Eu escolhi-te para que me informes
sobre a minha identidade».
O poeta é travesso: escreve uma palavra,
depois uma segunda, depois risca-as.
Deus mostra-se apressado:
«Diz aos homens como hão-de venerar-me:
criei-te para isso.»
O poeta sorri, escrevendo rosa,
e azul, e tucano,
e silêncio, e deus.
E diz:
«Todas as palavras são intermutáveis.»
 
Alain Bosquet nasceu na Rússia, antes da Revolução, oriundo de uma família judaica da alta burguesia, imigrado depois em França…
 
 
* Manuel Ferreira Lopes, nascido na Póvoa de Varzim, foi Director da Biblioteca Rocha Peixoto, naquela cidade. Um grande homem do Saber e da Cultura, o qual lá… entre o Bosque e o Riacho, onde Deus vive, tal como eu, encontrou o caminho da espiritualidade cisterciense.
 
 
E entre o Poeta Alain Bosquet e o Homem de Cultura Manuel Lopes sinto-me aquela que crê e nada sabe, e ama as palavras e com elas traça um trilho em areias movediças, ainda desconhecido…

Isabel A. Ferreira

 
 
publicado por Isabel A. Ferreira às 21:17

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