Sexta-feira, 13 de Junho de 2014

ONDE HÁ INTERESSES ECONÓMICOS SANGUINÁRIOS, NÃO PODE HAVER LUGAR PARA HUMANIDADE, HONRA, HOMBRIDADE E HONESTIDADE MORAL

 

Foi o que aconteceu.

 

Acaba de ser aprovado, em Portugal, um vergonhoso e irracional Regulamento do Espectáculo Tauromáquico (RET), Decreto-Lei n.º 89/2014 de 11 de Junho, mais propriamente um Certificado Medieval de Tortura (para não ser cumprido,como é hábito), numa altura em que por todo o mundo civilizado cresce a onda de repúdio a este tipo de “divertimento” cruel e boçal, que coloca os signatários desta desonestidade moral numa posição de entidades inumanas.

 

E…

 

Na aprovação deste Certificado Medieval de Tortura, reinou a política dos Três Is: Incultura, Ignorância e Irracionalidade. 

 

É da Incultura dizer-se que a tortura de bovinos (vulgo tauromaquia), nas suas mais variadas e toscas manifestações, é parte integrante do património da cultura popular portuguesa.

 

Para começo, isto é um insulto grosseiro à genuína Cultura Popular Portuguesa e à Cultura Culta do meu País, que não tem culpa de ter uma governação calculista e fossilizada.

 

É da Ignorância dizer-se que «entre as várias expressões, práticas sociais, eventos festivos e rituais que compõem a tauromaquia, a importância dos espectáculos em praças de touros está traduzida no número significativo de espectadores que assistem a este tipo de espectáculos», quando é do domínio público que as touradas têm sido fiascos atrás de fiascos, tendo cada vez menos espectadores, à excepção do campo pequeno, que encheu por duas vezes a arena, com as borlas dos convidados, que lá vão para se mostrarem e verem-se depois nas fotografias (como já referiu um aficionado).

 

Neste Certificado Medieval de Tortura continuou-se a excluir os Touros e os Cavalos do Reino Animal, o que demonstra uma grave lacuna em termos de conhecimentos científicos dos mais básicos.

 

É da Irracionalidade, dizer-se que a «salvaguarda do interesse público passa também pela harmonização dos interesses dos vários intervenientes no espectáculo tauromáquico e pela defesa do bem-estar animal», quando se sabe que o acto da tortura não é do interesse público e jamais será harmonizado, nem sequer se cruza com a defesa do bem-estar animal, uma vez que a tauromaquia é tão-só a «terrível e venal arte de torturar e matar animais em público, segundo determinadas regras. Traumatiza as crianças e adultos sensíveis. A tourada agrava o estado dos neuróticos atraídos por estes espectáculos. Desnaturaliza a relação entre o Homem e o animal, afronta a moral, a educação, a ciência e a cultura», como foi declarada pela UNESCO, em 1980, e que os “governantes” portugueses ainda não conseguiram assimilar. E já lá vão 34 anos.

 

São realmente muitos anos para ainda não terem aprendido algo tão óbvio, que até os pedregulhos conseguem entender.

 

Será que é preciso fazer um desenho para que os intervenientes neste Certificado Medieval de Tortura possam entender o que na realidade é a anormalidade daquilo que transformaram em lei?

 

Reunir um grupo de indivíduos para regulamentar algo que à luz da Razão, da Lógica, da Ética, da Evolução, da Civilização, do Bom Senso, da Sensibilidade, da Lucidez e da Lei Natural é uma autêntica aberração social, é algo que fere a dignidade de um País e de um Povo que não se revê, de todo, neste costume bárbaro, introduzido em Portugal na época filipina, e que nada tem a ver com a Portugalidade e com as Tradições Portuguesas.

 

Apenas os ignorantes desconhecem este pormenor histórico, que deita por terra qualquer pretensão da tauromaquia ser “património” português.

 

Todos os artigos deste Certificado Medieval de Tortura dizem da insensatez de quem os aprovou, mas o mais horrível de todos, e o que diz da índole cruel dos signatários (nenhum verdadeiro ser humano seria capaz de viabilizar tal certificado) é o Art. 51, que define as características dos ferros a cravar nas carnes dos Touros indefesos e já debilitados, para os torturar na arena:

 

Artigo 51.º

Ferragem

1 — Os ferros destinados à lide das reses são constituídos por material não traumático e maleável e dispõem de um mecanismo de quebra automática após a colocação. (O que fica por fora é maleável, o que se enterra nas carnes é ferro)

2 — Os ferros obedecem às seguintes características:

a) Os ferros curtos e os ferros de palmo medem até 90 cm e 35 cm de comprimento, respectivamente, são enfeitados com papel de seda de variadas cores e rematados com um ferro até 8 cm de comprimento com um ou dois arpões até 4 cm de comprimento e 2 cm de largura;

b) Os ferros compridos obedecem às características previstas na alínea anterior, com excepção do comprimento, que pode ser até 140 cm;

c) A parte residual dos ferros compridos que fica na rês, após a quebra, mede no máximo 35 cm;

d) Os ferros a utilizar na lide de garraios, vacas ou bezerros, são enfeitados nos termos previstos na alínea a) e rematados com um ferro até 3 cm de comprimento com um arpão até 1 cm de largura.

3 — A ferragem é entregue pelo embolador e seus ajudantes aos artistas, em zonas fixas da trincheira, definidas pela IGAC e devidamente assinaladas.

4 — A ferragem que seja fornecida pelo embolador ou pelos cabeças de cartaz, está sujeita a verificação da conformidade dos requisitos estabelecidos no presente artigo, sendo disponibilizada ao director de corrida até uma hora antes do início do espectáculo.

5 — Em caso de conformidade da ferragem, o director de corrida procede à selagem das caixas que a contém e à entrega das mesmas ao embolador.

 

Em suma, esta é a descrição da tortura propriamente dita. Depois de tudo somado eis o que restará do bovino, que foi “fabricado” para ser “bravo”, mas não passa de um ser vivo senciente e que sofre horrores como poder ver-se na imagem.

 

 

Isto é absolutamente horrível! Isto é pura crueldade. E quem certifica tal ignomínia só pode ser ignóbil.

  
 

«Não têm Cérebro, nem Coragem, nem Coração… então são políticos, certo

 

E foi isto que um grupo de indivíduos sem Alma e sem Coração, sem Humanidade, sem Honra, sem Hombridade, sem Honestidade Moral (atributos apenas dos seres sensíveis) estiveram a discutir e transformaram em lei.

 

Mas será “isto” uma “lei”? E mais do que “lei”, uma lei justa?

 

Envergonho-me e sinto um enorme desprezo por todos os que contribuíram (inclusive os que se dizem “amigos” dos animais e que aqui os traíram) para que a tortura continue vergonhosamente institucionalizada e a manchar o bom nome de Portugal e dos Portugueses, para salvaguardar os interesses económicos sanguinários de uma minoria inculta.

 

A ABOLIÇÃO É CULTURA, É SABEDORIA, É RACIONALIDADE

 

***

Para ver o conteúdo deste Certificado Medieval de Tortura, abrir este link:

https://dre.pt/pdf1sdip/2014/06/11100/0308003096.pdf

***

«Minha modesta opinião sobre o RET:

 

 Não há qualquer Regulamento do Espectáculo Tauromáquico que seja aceitável.

 

É da maior hipocrisia quando ali se fala de bem estar animal!

 

 A estratégia é combater a tauromaquia sem cerimónias, sem contemplações, sem cinismos e esclarecer tudo e todos sobre o massacre estúpido, vão e cruel, que essencialmente é. Vivam as alternativas da cultura, da diversão, da actividade humana, do respeito pelos animais e pelas pessoas e pelo país. Vasco Reis - Médico Veterirário)

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:08

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