Sexta-feira, 27 de Maio de 2016

Caçador (mais um) mata pais e avó a tiro de caçadeira em Montemor-o-Velho…

 

… e depois suicida-se…

 

Estes episódios repetem-se frequentemente, tão frequentemente que nos leva a reflectir sobre o “carácter” destes crimes.

 

Os caçadores são indivíduos com instintos assassinos. Se não o fossem, não se embrenhavam nos matos, para matarem, cobardemente, por mera diversão, animais inocentes, indefesos e inofensivos, que são surpreendidos e mortos no seu habitat, assim… sem mais nem menos…

 

CAÇADEIRA.jpeg

(Origem da foto - «Pai atinge filho com tiro de caçadeira em Ponte de Lima»

https://www.google.pt/search?q=ca%C3%A7adeira&biw=1240&bih=915&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwjQkI_ppPrMAhWQmhQKHd8EBRgQ_AUIBigB#imgrc=OIg-JxpQJLU5SM%3A

 

A caça justificou-se nos primórdios do mundo, quando a Humanidade dava os seus primeiros passos.

 

O homem primitivo teve necessidade de caçar, para subsistir, como qualquer dos outros animais que com ele partilhavam (e ainda partilham) o planeta Terra.

 

Mas à medida que foi evoluindo, e ao tornar-se agricultor, a caça deixou de ser uma actividade básica do homem.

 

Contudo, depois disso, uma parte dessa Humanidade não conseguiu evoluir, e não evoluindo, os instintos primitivos que obrigavam o homem a matar outros animais (mas a matar sem crueldade, como desde sempre o fizeram todos os animais ditos irracionais e carnívoros) permaneceram quase imutáveis, e ainda hoje vemos tribos caçadoras, muito primitivas, que ainda caçam para subsistirem, na selva, onde a civilização ainda não entrou.

 

Porém, uma parte, dessa parte da Humanidade não evoluída, desenvolveu esses instintos assassinos, e fez da caça um desporto, matando pelo simples prazer de matar. Algo que sempre esteve ligado à realeza, às classes mais altas, por ser “chique” ir à caça…e que depois se estendeu à plebe.

 

E a partir daqui é que estas histórias trágicas de assassinatos a tiro de caçadeiras começaram a expandir-se.

 

Quando o instinto assassino lateja nas entranhas de um indivíduo, qualquer pretexto, qualquer contrariedade leva o caçador a matar. E não lhe interessa qual seja o animal. Será o que estiver mais à mão: humano ou não-humano.

 

Os mais desesperados suicidam-se depois. Os mais cobardes fogem ou deixam-se apanhar, tendo de arcar com a consequência dos seus actos. Mas nada aprendem.

 

Ora este instinto assassino teria tendência a dissolver-se, caso não fosse a caça uma modalidade desportiva, disfarçada de “necessária para o ecossistema”. Caso os lobbies dos caçadores e o da venda de armas não fossem poderosos e incentivadores deste instinto assassino. Caso os governantes tivessem a coragem de legislar a favor da evolução, da civilização e da cultura culta.

 

Enquanto não houver consciência, bom senso, responsabilidade e sensibilidade para as questões da Ética Animal, estes crimes continuarão a acontecer, pelas localidades mais atrasadas civilizacionalmente, onde uma boa fatia do povo ainda vive num estádio ainda muito primitivo. Mas não só.

 

Nem de propósito, ontem estive a ler uma entrevista de Sophia de Mello Breyner ao Jornal de Letras, nº 468, de 25 de Junho de 1991, e a alturas tantas o José Carlos de Vasconcelos (o entrevistador e director do jornal) afirmou:

 

- O seu pai estava ligado à alta burguesia do Porto.

 

Ao que Sophia respondeu:

 

- Mas era uma pessoa muito original. O que gostava era de caçar, da natureza, dos jardins e dos cães.

 

Agora entendo por que Miguel Sousa Tavares, filho de Sophia e neto do caçador que fazia parte da alta burguesia do Porto, diz o que diz e é o que é em relação à sua apetência por touradas e pela caça, e à sua aversão pelos animais não-humanos.

 

Alguém que gosta da caça, mas também da natureza, de jardins e de cães, não pode ser original. Será outra coisa, será tudo, menos original. Que Sophia me perdoe.

 

Alguém que goste de caçar, não pode gostar da Natureza, da qual os animais caçados fazem parte. Alguém que goste de caçar não tem a noção do ser cósmico. Alguém que goste de caçar está reduzido a uma dimensão meramente terrena, ainda pouco evoluída, pertença à burguesia, à realeza ou à plebe.

 

Quem não respeita um animal não-humano, não respeitará o animal humano, e muito menos respeitará a si próprio.

 

E então os títulos de matanças surgem como cogumelos em matas húmidas:

 

- Homem mata pais e avó a tiro de caçadeira (Montemor-o-Velho)

- Mata ex-militar a tiro de caçadeira (Vinhais)

- Pai atinge filho com tiro de caçadeira (Ponte de Lima)

- Desavença termina com dois tiros de caçadeira (Alcochete)

- Jovem de 18 anos baleado a tiro de caçadeira (Almancil)

- Foi provocado em casa e matou rival com tiro de caçadeira (Santiago do Cacém)

- Jovem morto a tiros de caçadeira (Ferreira do Alentejo)

- Tragédia com morte a tiros de caçadeira (Mafra)

- Mata mãe a tiro de caçadeira (Paderne)

 

Estes são apenas alguns dos inúmeros títulos que podemos encontrar numa busca, no Google. Reparem nos nomes das localidades onde estes crimes foram cometidos. Não vos dizem nada?

 

Até quando os caçadores e as suas caçadeiras vão andar por aí a matar animais humanos e não-humanos, apenas porque o instinto de matar, seja quem for (coelho, raposa, perdiz, javali, cão, gato, pai, mãe, filho, irmão, avós, vizinho, mulher) fala mais alto do que qualquer outro instinto mais humano?

 

Isabel A. Ferreira

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:20

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Sábado, 14 de Março de 2015

Os Lusíadas do Século XXI d. C.

 

A triste realidade portuguesa actual

 

Camões.jpeg

 

«Luís Vaz Sem Tostões 

 

I
 As sarnas de barões todos inchados*
Eleitos pela plebe lusitana
Que agora se encontram instalados
Fazendo o que lhes dá na real gana
Nos seus poleiros bem engalanados,
Mais do que permite a decência humana,
Olvidam-se do quanto proclamaram
Em campanhas com que nos enganaram!

II

E também as jogadas habilidosas
Daqueles tais que foram dilatando
Contas bancárias ignominiosas,
Do Minho ao Algarve tudo devastando,
Guardam para si as coisas valiosas
Desprezam quem de fome vai chorando!
Gritando levarei, se tiver arte,
Esta falta de vergonha a toda a parte!
 
III

Falem da crise grega todo o ano!
E das aflições que à Europa deram;
Calem-se aqueles que por engano
Votaram no refugo que elegeram!
Que a mim mete-me nojo o peito ufano
De crápulas que só enriqueceram
Com a prática de trafulhice tanta
Que andarem à solta só me espanta.
 
IV

E vós, ninfas do Mondego onde eu nado
Por quem sempre senti carinho ardente
Não me deixeis agora abandonado
E concedei engenho à minha mente,
De modo a que possa, convosco ao lado,
Desmascarar de forma eloquente
Aqueles que já têm no seu gene
A besta horrível do poder perene!

Luiz Vaz Sem Tostões

(Enviado por email)     

 

Fonte: http://viriatus15.blogspot.com/2012/11/luiz-vaz-sem-tostoes.html

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 12:18

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