Quinta-feira, 15 de Maio de 2014

«A Redução do Sofrimento»

 

Um magnífico texto a propósito do programa da RTP «Prós e Contras» sobre touradas, publicado no Blog Anima Sentiens, um lugar onde se respira sensibilidade, bom senso e fina ironia, da autoria de Filomena Marta.

 

 

Por Filomena Marta

 

Uma redução, em termos culinários, é algo que se deixa ferver até que a humidade evapore e fiquem os ingredientes reduzidos e concentrados. Foi precisamente isto que se passou no programa “Prós e Contras” sobre a “Festa Brava”, que passou a 12 de Maio na RTP1. O sofrimento a que um animal é sujeito foi reduzido. Mas ao sê-lo foi também concentrado.

 

Um debate triste de tristes figuras. Fugiu-se do tema “sofrimento” como o diabo da cruz e até se vestiu o touro como um super-herói.

 

Desculpem, é mentira. Estou a faltar à verdade. Falou-se de sofrimento sim, do sofrimento comovente e tocante daquelas pobres famílias, dizem que são umas cinco mil, que quase de lágrima ao canto do olho contam a grande beleza, a estética e a ética que a tourada tem. A ética ninguém nunca lhes explicou o que significa e é usada abusivamente, agora a estética é uma coisa discutível: aqueles riquíssimos e caríssimos fatos são francamente bonitos… o sangue a escorrer nas costas do boi é que já me deixa dúvidas.

 

A teoria dos toureiros, dos aficionados e de uma coisa vagamente parecida com um veterinário é a de que o touro não sente dor. Ficamos a saber que o touro não faz parte dos mamíferos, classe a que o ser humano também pertence, não tem uma anatomia e morfologia comum a todos os mamíferos e é uma espécie de ser supra-terrestre que tem a capacidade de ter um ferro enterrado no lombo sem sentir dor. Pressupomos também que é um mestre em efeitos especiais e que aquela coisa vermelha que lhe escorre pelo lombo não é sangue, mas uma qualquer espécie de molho de tomate apenas para dar emoção aos aficionados.

 

Na sequência de afirmações supremamente científicas como estas temos, obrigatoriamente, de ir mais longe. Existe uma outra classe de seres no planeta à margem dos vulgares mamíferos. São seres especiais e também eles não sentem dor. É perfeitamente aceitável que no recinto de brincadeira, festa e confraternização onde se encontram para jantaradas touros e toureiros haja umas picardias mais atrevidas e ora agora te enfio eu um ferro, ora agora te enterro eu um corno. Tudo bons amigos e que ninguém se preocupe nem com uns, nem com outros, porque são ambos seres especiais. Nem o touro sente dor, nem o toureiro sofre com a cornada. É tudo a fingir.

 

Pois a verdade é que até ontem não se tinha a certeza que há quatro divisões diferentes no reino animal: os Homens, os Animais, os Touros e os Toureiros. Ah, mil perdões, esqueci-me de uma quinta divisão! Aquela divisão referida por uma toureira ao dizer “os meus cavalos divertem-se”.

 

Óbvio! Mas existem dúvidas que seja divertido ter uma criatura montada no lombo, a bater com esporas na barriga e a fazer avançar contra o perigo?! Nenhumas! É de rir até às lágrimas de tanto prazer e alegria.

 

Portanto está estabelecido: os touros não sentem dor, os cavalos divertem-se, os toureiros são um ramo paralelo dos humanos com capacidades especiais e os outros todos, gente e bichos, são umas aberrações que por aqui andam neste mundo a sentir dor, medo e a ter sentimentos.

 

Mas uma coisa é certa, ainda bem que os tauromáquicos não precisam de ajuda para denegrir a sua imagem, porque se os touros dependessem dos “amigos dos animais” estavam francamente “feitos ao bife”. Houve três intervenções com substrato, a de Rita Silva, a de uma veterinária e a de uma jurista. Mas isso nem sequer se tornou importante, porque um rufia sentado no painel encarregou-se de enterrar a Festa Brava com bravura e dar um belo exemplo do que é realmente um aficionado… mas eu, se fosse aficionada, não tinha gostado nada daquela representação. A menos que gostem de ser conotados com expressões pouco simpáticas.

 

Houve duas alturas muito interessantes no debate:

 

1. Um toureiro acesamente defendia a sua liberdade. Porque a liberdade dos abolicionistas terminava onde começava a dele… pois é, tal como a dele termina onde começa a dos abolicionistas. Mas ó criaturas!!!! E onde fica a liberdade do touro?!

 

2. Aquela coisa vagamente parecida com um veterinário, um senhor de ar “grave” e idade suficiente para pensar antes de falar, entre muitas outras pérolas de sabedoria arrancou um “os animais não têm direitos, porque não têm deveres”. Ora bem, como é que se escreve uma gargalhada…? É que já cansa ter de explicar que uma criança de dois anos também não tem deveres e tem direitos… mas como isto tem matéria para uma crónica inteira, passando pelos trabalhos forçados de todos os animais ao “serviço” do Homem, terá de ficar para outra altura.

 

Mas ver homens feitos a dizer disparates como “o touro não sente dor” e a queixarem-se de ser coitadinhos porque não os deixam fazer a sua “Festa” e os chamam de “assassinos” seria bastante triste, se não fosse primeiramente ridículo.

 

Depois há a tradição. Ah… a tradição! Um toureiro, aquele que defendia a sua liberdade, mostrou-se chocado com a comparação feita com a escravatura e a menção ao filme “12 anos escravo”. Um choque incompreensível, de facto, pois tratava-se de tradição. O negro não era considerado sequer um ser humano, não sentia dor como os seres humanos e não tinha alma. E era uma tradição. Tal como era tradição o circo romano, os gladiadores (geralmente escravos) e os cristãos na arena com os leões. Como é ainda hoje tradição a mutilação genital feminina, a lapidação e o casamento infantil.

 

As outras “tradições” inevitavelmente terminaram e duvido que houvesse alguém naquele programa, tauromáquicos incluídos, que defendesse a tradição da lapidação e da mutilação e do casamento infantil.

 

O ser humano tem evoluído. Nem sempre no bom sentido, também a maldade tem ganhado requinte, mas sem evolução ainda viveríamos em cavernas. Se calhar… ainda há quem viva, num plano mental e civilizacional. Mas estes são perigosos, pois andam por aí disfarçados de “gente moderna” e muitos até têm “cursos superiores”. O que nunca ninguém lhes disse é que na Faculdade não se ensina nem se aprende carácter, sensibilidade, humanidade ou sensatez.

 

***

Fadgen era um touro de lide até Christophe Thomas, um activista anti-touradas, o salvar. Fadgen era um touro de lide, até se tornar um animal de estimação. Todos os seres vivos têm direito a uma vida sem tortura e sem sofrimento, o touro não é uma excepção.

 

 

 
publicado por Isabel A. Ferreira às 15:21

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Quinta-feira, 31 de Outubro de 2013

«Touro não resiste à tortura e revida no seu algoz em Espanha»

 

É a Lei do Retorno a funcionar em pleno. Por vezes demora… Mas nunca falha.

 

“El Cordobés” teve o que mereceu. O Touro apenas se defendeu do seu carrasco.

 

Se ao Touro não dói (não é o que dizem?) ao torcionário também não. Afinal… são ambos animais com a mesma morfologia…

 

 

Toureiro El Cordobés é atingido por touro. Foto: Mirror.UK

 

Por Patricia Tai

 

«O popular toureiro espanhol chamado Manuel Díaz, conhecido como “El Cordobés”, foi atingido por um touro durante o Festival de Pilar em Zaragoza, na Espanha. As informações são do Mirror do Reino Unido e do MundoToro.

 

Segundo a reportagem, a multidão gritou horrorizada quando o enorme touro negro voltou-se “sem aviso” contra o toureiro.

 

 El Cordobés não teve tempo para fugir e os chifres do touro furaram o seu abdómen, girando-o e batendo-o de volta ao chão. Os espectadores assistiram assustados enquanto o homem foi repetidamente chifrado na região abaixo do estômago, próximo à virilha.

 

Ele foi levado às pressas para fora da arena e encaminhado à enfermaria do local assim que touro parou de lhe atacar e seu rosto pálido “mostrava agonia”.

 

Apesar da gravidade dos ferimentos, o mesmo não corre risco de morte, de acordo com informações do site “MundoToro”, que também divulgou que o toureiro já havia sido atingido de raspão na axila em sua primeira apresentação no evento.

 

Situações como essa são relativamente comuns e esperadas. Animais não-humanos apenas atacam para se defender. O touro já estava com várias “bandarilhas” espetadas em seu dorso quando atacou o toureiro.

 

Os touros são submetidos a verdadeiras torturas durante esses vergonhosos eventos chamados “espectáculos” de entretenimento humano. Para saber detalhes sobre isso, veja a imagem muito divulgada na Internet chamada “Anatomia do sofrimento de um touro… » 

 

 
 
 
publicado por Isabel A. Ferreira às 14:05

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Terça-feira, 8 de Outubro de 2013

SE NÃO DÓI AO TOURO… NÃO DÓI AO TORCIONÁRIO, AMBOS SÃO ANIMAIS COM A MESMA MORFOLOGIA. MAS ELE GRITA! POR QUE SERÁ?

 

O bandarilheiro  Rafael Perea "Boni" foi bem corneado nas corridas de Guijón, Espanha

 

O ano de 2013 tem sido o Ano dos Touros.

 

A ABOLIÇÃO ESTÁ PRÓXIMA

 

 

Fonte:

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=559341977455147&set=a.121844657871550.26622.120306091358740&type=1&theater

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 11:06

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