(Ora aí está algo que devia acontecer, mas nem sempre acontece, digo eu, porque a primeira obrigação do Touro é defender-se dos seus carrascos)
A frase do cabeçalho quem a diz é o ganadeiro José Luís de Vasconcellos e Sousa d’Andrade numa entrevista onde põe a nu a debilidade da tauromaquia nos tempos que correm.
Ficaremos a saber também por que o campo pequeno enche a casa, nada tendo a ver com tourada.
José Luís de Vasconcellos e Sousa d’Andrade
E José Luís diz mais:
Chama parvos aos empresários que compram touros a “ganaderos” (à moda espanhola, porque isto da tauromaquia não tem nada a ver com “tradição portuguesa”), e que deviam mandar fazer um touro de corda que lhes dava para a temporada inteira.
Dos toureiros diz que estes só sabem de artes de circo, mas lidar um touro “bravo” não é com eles. E acrescenta: «Acha que estou para dar dinheiro a artistas de circo? Acha que gosto de ver um boi no centro da praça com um cavalo cheio de martingalas à volta?»
Pois… martingalas, é o que os tauricidas são.
E sobre a falta de cultura dessa gente? Diz o ganadero: «alguns acham que são muito espertos, mas não passam de patetas. Mas como os portugueses, o que gostam é de ser enganados.»
Quanto ao que eles denominam “cavaleiros” e eu chamo montadores, e com razão, o ganadero diz que eles nem sabem vestir-se, como poderão saber do resto (o resto é saber as “artes de cavalgar”)
E de quem é a culpa?
Essa morre solteira, diz José Luís.
Mas diz mais.
À pergunta: acha que o público não sabe exigir? Ele responde:
- Exigir o quê?! Esses não sabem o que vão ver. Vão para ser vistos. 90% não sabe o que é um toiro nem um toureio.
E quanto à afición no campo pequeno?
(Esta resposta foi a de que gostei mais). Diz o ganadero:
- Das piores, vão lá como lhe disse, para serem vistos e outros para se verem depois nas fotografias. Vão a Lisboa. É diferente. As senhoras ver os fatos umas das outras e falar ao telefone e nós para vermos umas meninas bonitas nas barreiras. Muito pouca gente vai ver a corrida e esses vêm sempre de lá aborrecidos.
Para ver a entrevista completa abram o link:
Se pensam que já viram tudo o que há para ver acerca das touradas, enganam-se.
Este é considerado o mais autêntico documentário sobre o mundo das touradas em Portugal e que revela, pela primeira vez e de forma objectiva, aquilo que fica evidente: todo o culto de violência que gira em torno da tauromaquia.
"Taking the Face – The Portuguese Bullfight" é um documentário assinado pelo polaco Juliusz Kossakowski que foi exibido na sessão de abertura do Artivist Film Festival na segunda passagem por Lisboa (6 de Dezembro 2008) e faz um retrato global da tourada portuguesa, vista pelos olhos de quem não a tem como tradição.
O filme acompanha a viagem de um touro “bravo” desde o nascimento até à morte, explicando no seu decorrer alguns rituais polémicos da velha “tradição”.
Inteiramente filmado em Portugal e realizado pelos realizadores de Hollywood Matthew Bishop e Juliusz Kossakowski, "Pega de Caras – A Tauromaquia em Portugal" não deixará ninguém indiferente!
Depois de o verem nunca mais poderão olhar para a tourada com olhos generosos, e os que olharem é porque no lugar do coração têm uma pedra.
Neste documentário poderão conhecer, por um lado, os testemunhos de aficionados, toureiros, forcados e de outros agentes tauromáquicos acerca daquilo que os encanta e lhes interessa na actividade bárbara que é a tauromaquia. Por outro, apresenta os testemunhos de cientistas, filósofos e activistas dos direitos dos animais que deixam fortemente defendido o caso a favor da abolição das touradas.
“Taking The Face” explora o fenómeno da tourada Portuguesa - um mundo cheio de contradições, paixão, fé e crueldade, a partir da formação de matadores que não podem matar em Portugal; passando pelos forcados coloridos que cobardemente atacam touros moribundos de cabeça erguida, sem armas, e acham que isso é “valentia”; pelos montadores fantasiados e os seus cavalos de dança, para um ritual bizarro do “garfo gigante”; e ainda pelo “espectáculo” de Barrancos - a única brutal excepção à lei (graças a um decreto do aficionado ex-presidente da República, Doutor Jorge Sampaio) a qual proíbe a morte do touro na arena, mas também o matam à revelia da lei, em Monsaraz (e noutros lugares [arenas privadas nas propriedades dos ganadeiros] às escondidas, para treino).
Eis o que se faz em Portugal, um país que se diz integrado numa Europa livre e civilizada, mas está à margem dessa civilização, juntamente com Espanha e França, que permitem esta barbárie nos seus territórios.
Isabel A. Ferreira