Um extraordinário texto, da autoria de Marcelo Lafontana, o qual convida a uma profunda reflexão
Por Marcelo Lafontana
«O único exercício moral válido para a Igreja Católica seria tentar seguir os ensinamentos e imitar o comportamento do mesmo Cristo que adora.
Vejamos:
Jesus aceitaria a desigualdade social ou defenderia oportunidades para todos?
Jesus veria com bons olhos a distribuição da riqueza de forma igualitária?
Jesus promoveria a guerra em nome da fé?
Jesus perseguiria, torturaria, prenderia e queimaria gente em nome da religião?
Jesus acumularia tanta riqueza e ostentaria tanto luxo como o Vaticano?
Jesus daria igual oportunidades a homens e mulheres?
Jesus teria aceite um acordo com Mussolini e o fascismo para ter um Estado independente da Itália?
Jesus perseguiria ou mesmo hostilizaria homossexuais?
Jesus aprovaria ter o infame General Franco enterrado num monumento religioso construída por presos políticos?
Jesus oprimiria cientistas como Galileu Galilei ou artistas como Miguel Ângelo só por terem uma ideia diferente da sua?
Bem, a lista não teria mais fim.
Fonte:
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10218354449365575&set=a.10201991215414953&type=3&theater
Se isto é arte... ou cultura, o que dizer da Pietá de Miguel Ângelo, que os tauricidas provavelmente desconhecem...?
Estas imagens têm de ser banidas, para sempre, da face da terra.
«Ontem, uma vez mais, na sequência da manif Anti-Tourada em Mira, tive o desprazer de ouvir um torcionário esgrimir o argumento do respeito.
Disse a besta que respeita a posição de quem não gosta de touradas, e que quem não gosta deve fazer o mesmo: respeitar quem gosta. Argumento imbecil e fora de contexto.
A tortura não é respeitável. Ninguém pode torturar e exigir respeito.
Ninguém pode achar divertido assistir ao sofrimento de outro ser e exigir respeito. Esse argumento é tão descabido quanto o de um pedófilo achar que deve ser respeitado por violar uma criança, ou um violador querer respeito quando viola uma mulher.
A tourada, e todos aqueles que nela participam, de forma directa ou indirecta, não são merecedores de respeito. Pelo contrário, a tourada é em si uma grave ofensa a todos os valores humanos. Não se trata de gostar ou não. Trata-se de respeitar os outros, coisa que esse abjecto evento não faz.
O respeito é uma via de dois sentidos. Só pode pedir respeito quem respeita. Os que não respeitam os outros não são merecedores de respeito.
E quem gosta ou participa em touradas não só não merece ser respeitado como está a ofender gravemente toda a Humanidade».
Luís Martins
in https://www.facebook.com/luisbarrmat?fref=nf
Faço minhas as palavras do Luís Martins.
Isabel A. Ferreira
Copyright © Isabel A. Ferreira 2008
Não sou um ser extra-terrestre, nem a mulher que veio do futuro, nem sequer sou sofisticada ou bela. Talvez a minha única extravagância esteja numa simplicidade que já não se usa.
Por vezes, costumam comentar: «Se não fumas, não bebes, não te pintas, nem te enfeitas, não és deste tempo».
E eu respondo: «Bom, não fumo essencialmente porque gosto de mim, e desagrada-me o gosto e o cheiro pestilento do tabaco. Não bebo, por hábito, porque gosto de refresco de limão. Não me pinto porque acho que já nasci colorida, o bastante; nem me enfeito, porque não sou uma árvore de Natal. Que mal tem isto? Sou como sou».
Não sou um ser extraterrestre, mas admito que vivo num outro planeta. Num planeta extremamente tudo: louco, vivo, terrível, belo, barulhento, silencioso, bom e mau. Num mundo onde tudo é colorido: as flores, as casas, as pessoas, o céu, a terra, o mar… O meu planeta é louco, porque autêntico. Para sermos autênticos devemos ser um pouco loucos, porque só os loucos vivem realmente. Os outros (os ditos ajuizados) andam por aí desiludidos, às cabeçadas à vida.
Não sou a mulher que veio do futuro, mas vivo para além do século XXI. Estou-me nas tintas para os preconceitos, para as manias, para as frustrações colectivas de uma sociedade que não sabe viver.
Na minha filosofia de vida não há lugar para lugares comuns. Não gosto de frases feitas, nem de imitar o mundo só porque é moda, nem de frequentar os mesmos lugares, ver os mesmos rostos, percorrer as mesmas ruas, todos os dias. Viver é tão fácil e belo como o voo das aves. Mas os homens complicam tudo.
Por vezes, desencontro-me. Não sei se sou eu que guerreio a vida, ou a vida que me guerreia a mim. Só sei que uma de nós declarou guerra à outra, e o conflito parece ser eterno: hoje, quero. Amanhã, não quero. Hoje sinto, amanhã não sinto. Hoje gosto, amanhã não gosto. Hoje, tudo. Amanhã, nada. Hoje, sou. Amanhã, não sou. Hoje, penso. Amanhã, não penso. Hoje fico. Amanhã, não fico. Hoje, sei. Amanhã, não sei. Hoje, estou. Amanhã, não estou. Hoje, bem. Amanhã, mal. Hoje, sim. Amanhã, não. Hoje, eu. Amanhã… quem?... Por isso, refugio-me num universo só meu. Subo a uma nuvem de onde fico a olhar o mundo. É muito menos monótono observá-lo lá de cima. Por isso, chamam-me nefelibata.
Apesar disso, não sou uma pessoa complicada: amo as flores, os bosques, as crianças, os rios, as aves, os animais, o Sol, a Lua, o mar… Amo a Natureza como a mim mesma. Amo a simplicidade, e a tentativa de simplificar tudo o que é complicado à minha volta é, com certeza, a base de todo o meu conflito com a vida.
Eu vivo. Gostava que todos vivessem também. Eu estou no mundo. Gostava que todos estivessem também. Mas não gostam. Não sentem. Não sonham. Não estão no mundo. Deambulam por aí, como zombies.
Identifico-me com o mês de Setembro, com o Outono e com o Mar.
Sinto-me Setembro porque o mês prenuncia o fim do rebuliço do Verão, e o início de uma paz trazida pelo Outono. Por isso, também me sinto Outono: sou calma, sou folha caída, sou brisa suave, sou natureza palidamente colorida, sou calor morno de um Sol distante.
Sou mar, pois foi no mar que em criança tive o meu primeiro encontro com a Morte. Desde então, aprendi a temê-lo, mas também a respeitá-lo e a amá-lo profundamente. Foi num areal deserto que brinquei as mais felizes brincadeiras da minha infância, com o meu cão e as aves marinhas. Foi sobre o mar que vivi os momentos mais fascinantes da minha juventude. E é à beira-mar que me refugio, quando a vida me chicoteia.
A minha virtude preferida, quer no homem, quer na mulher, é a espontaneidade, fazer e dizer o que se entende por bem, no momento exacto, e sem ligar a convenções.
A minha ocupação preferida é deitar-me no chão de uma sala escura e imaginar que sou uma laranja.
O principal defeito do meu carácter é confiar nas pessoas.
Se pudesse voltar a ter 20 anos e soubesse o que sei hoje, talvez acreditasse na felicidade.
A desgraça? É não saber o que fazer dos segundos, minutos, horas, dias, noites e anos que temos para viver.
Gosto de todas as flores, porque em todas elas encontro a magia da cor, da beleza, da forma e da harmonia perfeita…Nelas vislumbro a Arte de Deus.
As cores minhas preferidas? Gosto do vermelho das papoilas, do amarelo dos girassóis, do verde das folhagens e do azul do céu.
Se eu não fosse quem sou, gostava de ser um cavalo negro e selvagem, solto numa planície onde pudesse correr desenfreado e jamais ser domado por homem algum.
O meu lugar preferido parar viver? Longe das multidões, numa pequena cabana, no meio das árvores, ou num jardim cercado de água e habitado por pássaros, para lhes ouvir o canto; num lugar onde houvesse música envolvente nas ruas e, principalmente, onde as pessoas não fossem insípidas.
Os meus autores e poetas predilectos são todos aqueles que se expressam através da linguagem do amor; que são autênticos e livres, e sabem tirar partido das suas vivências para poder transmitir-nos, de um modo pessoal, as suas mensagens.
Quanto a pintores, de Miguel Ângelo a Salvador Dali, todos quantos conseguem pintar a dor, a alegria, a luz, a cor, o luar, o amanhecer, o pôr-do-sol, a penumbra, e retratar os sentimentos humanos num olhar, num gesto, num sorriso ou num pranto.
Música? De Chopin aos Beatles todos os compositores que me façam vibrar, ir às nuvens, dar ao pé, sonhar, ou simplesmente baloiçar o corpo.
A minha divisa favorita é a da tartaruga: «Piano, piano se va lontano…», e nunca desanimar.
A crueldade é a coisa que mais me causa aversão, e a maior angústia é ver o sofrimento das crianças, dos velhos e dos animais não-humanos.
As faltas que me inspiram maior indulgência são as cometidas pela ignorância não-optativa, e a qualidade minha preferida é a simplicidade.
Quanto à minha situação espiritual, neste momento, é a tentativa da busca do tempo perdido…
Isabel A. Ferreira