«O meu encontro com a Lepra, fez-me analisar melhor o contexto que me cerca, as tradições repugnantes que se consentem, as heranças "culturais" que o álcool e a brutalidade das frustrações levam ao limite mais sórdido e essa classe política uniformizada que nos ultraja e cala, porque o povo é manso, tem medo e anestesiaram-no há muito, num faz de conta infame, lento e destruidor.»
Magnífico texto de Teresa Botelho no Blogue «Retalhos de Outono».
Leiam. Vale a pena ler. Não perdem tempo. Entram num mundo, onde a lucidez e a racionalidade estão aninhadas.
Por Teresa Botelho
«LEPROSOS»
«Hoje veio-me à memória, um episódio insólito ocorrido há umas dezenas de anos, quando fiz dois anos de cooperação na Guiné Bissau.
O calor húmido convidava-nos a aproveitar o fresco das noites, na esplanada do Grande Hotel que de "grande", só tinha o nome, mas era lá que se reunia muita gente depois do jantar, antes que cortassem a luz, para um refresco e umas conversas à toa.
Naquela noite, eu sentara-me com um colega do liceu, numa mesa de canto, para que ninguém ouvisse o que nos apetecia conspirar.
Falávamos do nosso Portugal há pouco tempo livre que contrastava com essa Guiné independente, onde a democracia era uma miragem e a pobreza aumentava a olhos vistos, enquanto ia crescendo o pecúlio de entidades estrangeiras e dos seus governantes corruptos.
Nesse serão, a conversa foi interrompida por um guineense muito magro, de calças rotas arregaçadas que deixavam ver umas ligaduras sujas amarradas nas duas pernas.
Aproximou-se da nossa mesa e perguntou gentilmente, se lhe pagávamos uma cerveja. Puxámos uma cadeira e ele sentou-se satisfeito, contando que era de longe, mas que tinha vindo a Bissau, porque tinha precisado de tratamento hospitalar.
Quando, chegou a cerveja, bebeu de um só trago satisfeito, levantando-se em seguida e estendendo-nos a mão ossuda para um cumprimento demorado e amistoso, enquanto finalmente confessava que tinha fugido do hospital, porque o tinham levado para lá à força, depois de lhe ter sido diagnosticada Lepra.
Após o efusivo aperto de mão e logo que o homem se afastou, corremos cada um para sua casa, para um banho de álcool puro e roupa fervida. Ficámos depois a saber que se a Lepra for seca, não é contagiosa, nem havia razão para tanto pânico, mesmo que não o fosse.
A razão de me ter recordado hoje deste episódio, passado há tantos anos, num país que me ficou no coração e ao qual prometi voltar, nem que seja por poucos dias, veio de um sentimento que há muito guardo e que me faz amar perdidamente essa África despojada de tudo, menos do seu encanto, da sua simplicidade, do cheiro a terra molhada e da generosidade do seu povo ingénuo, porque jamais houve interesse de o cultivar e menos ainda respeitar.
Hoje, vim aqui falar de um leproso que me apertou a mão e que hoje recordo com um sorriso carinhoso e emocionado, bem diferente desse sentimento que sinto pelos "leprosos" que vagueiam pelo meu país sem ligaduras, nem corpos magros de fome, mas cuja Lepra é mais contagiosa que a do guineense em fuga de um hospital abandonado e sem recursos de um país esquecido.
A razão pela qual fui buscar uma memória antiga para a comparar com a Lepra que grassa e corrói este meu país e este meu continente enfermo, faz-me arrepender profundamente não ter abraçado esse negro franzino de chagas cobertas por ligaduras imundas, porque vejo por aí abraços e afectos bem menos espontâneos e sinceros, dados por quem, sem sombra de vergonha, usa a Lepra do seu cérebro sujo, para manipular os incautos e os ignorantes, contagiando tudo à sua volta, minando a liberdade, a decência e alicerçando dia após dia, a ideia de uma democracia podre, da qual resta hoje apenas uma fugaz miragem...
Este não é o país do qual me orgulho, apenas porque me calhou ter nascido nele, mas se a África, é terceiro mundo, porque quem a colonizou e escravizou fez questão de desinvestir na cultura, na defesa das liberdades individuais e na educação das suas gentes, por cá a diferença não é tão grande, perante o laxismo e a impunidade que a cada passo nos agridem, bem como pelo atraso civilizacional a que muitas das nossas comunidades são votadas, com a conivência de uma religião que por cá impera, sem grande diferença das missões africanas que apenas prolongam, em grande parte dos casos, a submissão e a apatia dos rebanhos que só a fome reúne ao seu redor.
O meu encontro com a Lepra, fez-me analisar melhor o contexto que me cerca, as tradições repugnantes que se consentem, as heranças "culturais" que o álcool e a brutalidade das frustrações levam ao limite mais sórdido e essa classe política uniformizada que nos ultraja e cala, porque o povo é manso, tem medo e anestesiaram-no há muito, num faz de conta infame, lento e destruidor.»
Teresa Botelho
Fonte:
Isto só podia acontecer numa localidade mergulhada em profundas trevas, com uma população que é velha desde que nasceu, caracterizada por uma ignorância enraizada, a qual jamais nenhum governante tentou arrancar, para fazer evoluir o povo.
(Foi isto que circulou pelo mundo... Uma vergonha!)
Daí considerarem que um gato não sofre, se o meterem dentro de um pote de barro (que para aquela gente deve ser a "casa" natural de um gato) pendurado debaixo de uma fogueira.
Depois... confundem um gato com um pau... e querem ser tratados como gente normal...
Ouça-se no vídeo os miados desesperados do gato queimado vivo.
("Aparentemente a arder" não... O gato saiu dali a ARDER... Ouça-se os depoimentos do povo...)
E andam a vender Portugal aos estrangeiros como um país evoluído.
A dona do gato, em co-autoria com “indivíduos de identidade não concretamente apurada” usado neste ritual satânico, foi acusada pelo Ministério Público de um crime de maus-tratos a animais de companhia, na forma consumada.
O crime de maus-tratos a animais de companhia é punido com pena de prisão até um ano ou pena de multa até 120 dias.
O que apetece dizer é que a pena da dona do gato não deveria ser nem a prisão, nem a multa. A mulher deveria ser metida num pote de barro, pendurado debaixo de uma fogueira para ter a certeza se o gato sofre ou não. Porque o povo de Mourão e a dona do gato disseram que o gato não sofre, mesmo queimado vivo.
Que miséria de país é o nosso!
Este caso revoltou os amigos dos animais que conseguiram que a mulher de Vila flor, de 64 anos, dona do infeliz gato, fosse acusada de maus-tratos a animais numa (maldita) tradição integrada nas festas de São João, a partir da crença de afastar as pragas. Sim porque em Portugal, o tempo das pragas ainda não acabou. E a Igreja a consentir nestesv rituais bárbaros e medievalescos.
O julgamento já começou. A população local foi chamada a depor e disse esta coisa inacreditável, como se todos fossemos muito estúpidos: “Queima do Gato”? Não. Aquilo era a “Queima do Vareiro”, ou seja, um pau.
Pelo que se ouviu dos habitantes de Mourão, aquilo era uma tradição quem vem de tempos imemoriáveis, pois claro, e as tradições são para cumprir, sejam ou não compreendidas, porque eles até nem sabiam de onde “aquilo” veio ou porquê o fazem.
«A maior parte das testemunhas começou por dizer que nunca viu nenhum gato ser colocado no pote atado no cimo de um pau (vareiro) enrolado em palha, à qual era ateado fogo, acabando o pote por cair em cima das chamas com o animal a correr desorientado entre a assistência, como se vê no vídeo da polémica, divulgado na Internet, depois das festas de Junho de 2015. O julgamento acabou por ser interrompido por a arguida se ter sentido mal.»
Se não fosse o vídeo, onde se vê e ouve os miados desesperados do gato, todo queimado e acossado pelos gritos histéricos de uma população enlouquecida, podia ser que a treta do desconhecimento do ocorrido passasse. Mas não pode passar. Há as imagens. E as imagens dizem de um ritual macabro e medieval, ocorrido numa localidade civilizacionalmente atrasada e cheia de gente macabra.
Desde o momento em que este vídeo foi divulgado e Mourão e Vila Flor caíram na boca do mundo inteiro, que se revoltou com tão cruel ritual satânico (sim, porque, de certeza, que São João terá algo a dizer a esta gente, quando esta gente por desta para melhor) despoletou-se uma onda de revolta, que levou a dona do gato ao banco dos réus.
A organização deste ritual para “afastar pragas” (a peste negra? a lepra? ou a praga humana?) é da responsabilidade de toda a população. Portanto, toda a população está envolvida neste crime contra um ser vivo que, por acaso, em Portugal é considerado um animal, e está (ou devia estar) protegido pela Lei. Porque existe uma Lei de Protecção a Animais, se bem que seja apenas de protecção a (alguns) Cães e Gatos.
Pelo que se sabe, as autoridades estão convencidas de que o gato que no dia seguinte à queima foi mostrado à GNR não seria o mesmo que foi sujeito ao ritual.
Não era de certeza. Pelo que se viu no vídeo, o gato saiu do ritual a arder, bastante maltratado, e fugiu, e os gatos, quando estão assustados e feridos, estando livres, escondem-se de tal modo que nunca mais ninguém os vê. E morrem sós e em grande sofrimento.
Seria conveniente ouvir também o testemunho de um Médico-Veterinário independente (não daqueles comprometidos com o sistema, que só dizem mentiras).
Pode dizer-se, com toda a certeza, que aquele gato que vemos no vídeo, morreu sozinho e lentamente, com dores atrozes, porque a dor das queimaduras de um gato são iguais às das queimaduras de um ser humano, e tratam-se do mesmo modo. E nunca mais ninguém o viu.
E quem disser o contrário, está a mentir ou é muito ignorante.
A acusação concluiu e muito bem que “a arguida e indivíduos de identidade não concreta agiram de forma a infligir maus-tratos físicos ao gato com dores e sofrimento”.
Diz ainda a lei que em caso de morte do animal (que depois do que se viu, e se ninguém encontrou o gato e o levou a um veterinário para ser tratado, morreu com toda a certeza) ou privação de importante órgão ou membro ou a afectação grave e permanente da sua capacidade de locomoção, a punição é de prisão até dois anos ou pena de multa até 240 dias.
Todos nós, amigos dos Gatos, queremos que se faça justiça justa a este infeliz gato, para que nunca mais nenhum gato seja sacrificado em nome de crenças medievais que não se justificam nos tempos modernos.
É preciso punir esta mulher convenientemente, como exemplo do que não se deve fazer e, deste modo, contribuir para a evolução destas localidades ainda civilizacionalmente muito, muito atrasadas.
Isabel A. Ferreira