Sexta-feira, 23 de Janeiro de 2015

O QUE SERÁ “AQUILO” A QUE CHAMAM “TRADIÇÃO” TAUROMÁQUICA?

21294_572136202819947_8870113_n[2].jpg

O que as universidades ensinarão aos jovens? A serem cobardes? Um comportamento para ser verdadeiramente ético (convém não esquecer que vivemos em sociedade…) terá de responder a estas três perguntas: 1- Quero fazer isto? 2- Devo fazer isto? 3- Posso fazer isto?

 

Vejamos o que diz Isabel Godinho, uma jovem portuguesa (com a lucidez que falta aos governantes portugueses) a propósito da afirmação de um tauricida, que a confrontou com o “estilo de vida” dos que torturam e matam bovinos para diversão.

 

«O que chamam “tradição” e querem defender a todo o custo, consiste na tortura e morte de animais sencientes, para divertir uma minoria perversa.

 

É impossível compreender que tipo de mentes se entretêm a ver animais vivos a serem torturados.

 

Pergunta-se: e se fosse um maluco, pela rua fora, a espetar um cão? E se fosse um psicopata que gostasse de espetar pessoas até à morte, com uma lança? Não iríamos querer que a polícia os encontrasse e prendesse? Ou será que iria aparecer alguém a dizer que o estilo de vida do psicopata era matar pessoas e que, por isso, ninguém podia interferir? Parece sensato? Pois a mim não...

Estar ou ser contra touradas não é apenas não gostar e querer estragar a vidinha dos que gostam, é perceber que torturar um animal é contra princípios de respeito, não maus-tratos e protecção e querer defender esses princípios porque são comuns a todos e não apenas “à vida dos outros”».

 

***

Um outro aspecto.

 

Coloquei a um defensor convicto dos direitos dos animais esta questão:

 

«Arsénio, será que a liberdade de... e o direito de... vão no mesmo sentido? Ou serão conceitos diferentes?»

 

O cidadão Arsénio Pires, também com a lucidez que falta aos governantes portugueses respondeu-me:

 

«Isabel,penso que você toca no grande problema: o que é Ética?

 

Penso que ter liberdade para fazer uma coisa não pode querer dizer que eu tenho o direito de a fazer. Ex: Posso ter liberdade para fazer uma coisa que vai contra a autêntica liberdade de alguém. Logo, não tenho o direito de executar essa coisa (acção, palavra, atitude, gesto, etc.). Aqui, a minha liberdade tem um limite.

 

Em meu entender, um comportamento para ser verdadeiramente ético (convém não esquecer que vivemos em sociedade…) terá que responder a estas três perguntas:

1- Quero fazer isto?

2- Devo fazer isto?

3- Posso fazer isto?

 

Disse Kant: Devemos agir de tal forma que a nossa ação possa ser transformada em lei universal de comportamento.

 

Isabel, haveria muito a dizer sobre o Homem verdadeiramente livre!»

 

***

Exactamente., Arsénio

 

Mas para isso seria preciso que o povo fosse culto e que os governantes fossem cultos também e tivessem lido, pelo menos, a Fundamentação da Metafísica dos Costumes e a Crítica da Razão Prática, para compreenderem o que querem, ou devem ou podem fazer. Para quem não sabe, Immanuel Kant foi o último grande filósofo dos princípios da era moderna.

 

O que é um homem verdadeiramente livre?

 

Eis o busílis da questão.

 

O homem verdadeiramente livre será aquele que, apenas porque gosta, porque lhe dá prazer, porque lhe convém, porque até ganha dinheiro com isso, e em nome de uma coisa a que chama “tradição” sai por aí a torturar e a matar e a estropiar seres vivos (sejam humanos ou não humanos) com a crueldade própria dos esvaziados de uma alma humana?

 

Ou será aquele que com lucidez conhece os limites da sua liberdade?

 

Fórmulas da lei moral em Kant:

 

«Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal».

 

«Age como se os princípios da tua acção devessem ser erigidos pela tua vontade em lei universal da natureza».

 

«Age de tal modo que trates a humanidade, tanto na tua pessoa como na do outro, sempre como um fim e nunca como um meio

 

«O reino dos fins une os seres racionais, sob uma legislação comum. A pessoa tem um valor e uma dignidade sem preço.

 

«O dever é uma necessidade interna de realizar uma determinada acção apenas por respeito à lei moral (lei prática). O dever liberta o homem das determinações a que está submetido, substitui a necessidade natural. O dever impõe ao homem a limitação dos seus desejos e obriga-o a respeitar as leis morais da razão.»

 

Bertrand Russel um dos mais influentes matemáticos, filósofos e lógicos que viveram no século XX, respeitado por inúmeras pessoas como uma espécie de profeta da vida racional e da criatividade, resume assim o pensamento de Kant:

 

"A moral só existe quando o homem actua segundo o dever. Não basta que o acto seja tal como o dever pode prescrever. O negociante honesto por interesse ou o homem bondoso por impulso não são virtuosos. A essência da moralidade deriva do conceito de lei; porque embora tudo na natureza actue segundo leis, só um ser racional pode actuar segundo a ideia de lei, isto é, por vontade. A ideia de um princípio objectivo, que impele a vontade, chama-se uma ordem da razão e a fórmula é o imperativo".

 

in, «História da Filosofia».

 

Como diz Arsénio Pires: «Haveria muito a dizer sobre o Homem verdadeiramente livre

 

Na verdade, o que faz falta é a Cultura Culta.

 

O que faz falta é ler os grandes filósofos da humanidade.

 

O que faz falta é um sistema de ensino que conduza os jovens à plenitude da sua própria essência humana.

 

O que faz falta é educar o povo para uma cidadania responsável.

 

O que faz falta são governantes cultos que possam transmitir Cultura Culta e não se verguem à “cultura” e á identidade “cultural” dos broncos e lhes dêem primazia sobre a cultura dos verdadeiros homens livres.

 

Devia ser OBRIGATÓRIO um Certificado de Lucidez e Cultura Culta para os candidatos a governantes.

 

Fonte para as citações de Kant, cuja leitura recomendo aos senhores governantes e não só...

http://afilosofia.no.sapo.pt/12KantIntrod.htm

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 10:19

link do post | Comentar | Adicionar aos favoritos

Mais sobre mim

Pesquisar neste blog

 

Março 2024

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
14
15
16
17
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31

Posts recentes

O QUE SERÁ “AQUILO” A QUE...

Arquivos

Março 2024

Fevereiro 2024

Janeiro 2024

Dezembro 2023

Novembro 2023

Outubro 2023

Setembro 2023

Agosto 2023

Julho 2023

Junho 2023

Maio 2023

Abril 2023

Março 2023

Fevereiro 2023

Janeiro 2023

Dezembro 2022

Novembro 2022

Outubro 2022

Setembro 2022

Agosto 2022

Junho 2022

Maio 2022

Abril 2022

Março 2022

Fevereiro 2022

Janeiro 2022

Dezembro 2021

Novembro 2021

Outubro 2021

Setembro 2021

Agosto 2021

Julho 2021

Junho 2021

Maio 2021

Abril 2021

Março 2021

Fevereiro 2021

Janeiro 2021

Dezembro 2020

Novembro 2020

Outubro 2020

Setembro 2020

Agosto 2020

Julho 2020

Junho 2020

Maio 2020

Abril 2020

Março 2020

Fevereiro 2020

Janeiro 2020

Dezembro 2019

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Agosto 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Direitos

© Todos os direitos reservados Os textos publicados neste blogue têm © A autora agradece a todos os que os divulgarem que indiquem, por favor, a fonte e os links dos mesmos. Obrigada.
RSS

AO90

Em defesa da Língua Portuguesa, a autora deste Blogue não adopta o Acordo Ortográfico de 1990, nem publica textos acordizados, devido a este ser ilegal e inconstitucional, linguisticamente inconsistente, estruturalmente incongruente, para além de, comprovadamente, ser causa de uma crescente e perniciosa iliteracia em publicações oficiais e privadas, nas escolas, nos órgãos de comunicação social, na população em geral, e por estar a criar uma geração de analfabetos escolarizados e funcionais. Caso os textos a publicar estejam escritos em Português híbrido, «O Lugar da Língua Portuguesa» acciona a correcção automática.

Comentários

Este Blogue aceita comentários de todas as pessoas, e os comentários serão publicados desde que seja claro que a pessoa que comentou interpretou correctamente o conteúdo da publicação. 1) Identifique-se com o seu verdadeiro nome. 2) Seja respeitoso e cordial, ainda que crítico. Argumente e pense com profundidade e seriedade e não como quem "manda bocas". 3) São bem-vindas objecções, correcções factuais, contra-exemplos e discordâncias. Serão eliminados os comentários que contenham linguagem ordinária e insultos, ou de conteúdo racista e xenófobo. Em resumo: comente com educação, atendendo ao conteúdo da publicação, para que o seu comentário seja mantido.

Contacto

isabelferreira@net.sapo.pt