Sexta-feira, 12 de Junho de 2020

O Padre António Vieira, erguendo a sua voz contra os colonos europeus, dedicou a sua vida aos escravos, negros e indígenas brasileiros

 

Mas a ignorância é a mãe da estupidez. Sempre foi, em tudo.

 

PAVIEIRA.png

 

Quem, ontem, vandalizou a estátua do Padre António Vieira, erguida no Largo Trindade Coelho (Bairro Alto - Lisboa), além de vândalo(s) é (são) ignorante(s) ao mais alto grau.

 

É no que dá os governos menosprezarem o ESTUDO DA HISTÓRIA, que querem apagar, por motivos dos mais estúpidos, até porque a Humanidade tem uma História, e goste-se ou não das barbaridades que se cometeram, em nome dos homens ou em nome dos deuses, elas existiram, e têm de ser recordadas para que as gerações futuras não as repitam, se bem que haja quem não consiga aprender o mínimo dos mínimos.  

 

E uma coisa é erguer-se estátuas a indivíduos que na sua época foram “heróis”, outra coisa é perpetuar a memória dos actos que esses "heróis" cometeram contra a Humanidade, e isso faz-se através do estudo da História, sem a apagar e não a lendo à luz dos valores do século XXI d. C. Num futuro muito longínquo, isto é, se houver futuro,  talvez os "heróis" do nosso tempo também sejam desconsiderados e anulados pelos crimes cometidos contra os seres humanos, contra os seres não-humanos e contra o Planeta.

 

Não foi o caso do Padre António Vieira, que ergueu a sua voz contra os colonos europeus, e dedicou a sua vida aos escravos, aos negros e aos indígenas brasileiros.

 

E a National Geographic, num texto escrito em Bom Português, dá-nos uma pequena lição de História, acerca do padre António Vieira, que qualquer um, que esteja interessado, pode aprofundar com a ajuda de uma Enciclopédia.

 

Espero que os nossos governantes tenham aprendido alguma coisa, com este triste episódio, e tratem de incluir, no currículo escolar, o estudo da História, e não apenas pedaços da História, que mais convêm a quem não tem uma visão global da Humanidade e do seu percurso, para que possamos ter um futuro livre de um vírus chamado estupidez, que anda a atacar países como os EUA e o Reino Unido e, ao que parece, Portugal também.

 

padre.jpg

«Padre António Vieira, defensor dos Índios»

 

A descoberta do Brasil provocou o choque entre duas culturas em diferentes estados de evolução. Entre conquistadores e conquistados, a voz do padre António Vieira ergueu-se contra os abusos dos colonos europeus.

 

Nasceu em Lisboa em 1608 e viajou muito novo com a família para São Salvador da Bahia.

 

Com 15 anos, iniciou o noviciado na Companhia de Jesus e, aos 26, foi ordenado sacerdote. Na hora de fazer os votos, Vieira terá acrescentado um quarto voto especial: o de dedicar a sua vida aos escravos, negros e índios do Brasil.

 

Com a Restauração, viajou para Lisboa e permaneceu na Europa durante os 11 anos seguintes. Tornou-se Pregador de Sua Majestade, confidente e amigo pessoal de Dom João IV, e os seus sermões cedo causaram sensação na capital. Em Novembro de 1652, o padre António Vieira trocou a vida cortesã da Europa pelas paragens remotas da selva amazónica, onde viu a oportunidade de realizar a sua verdadeira vocação num território que via os escravos, os índios e os negros como a sua principal riqueza.

 

Nove anos depois, o conflito com os colonos atingiu um ponto insustentável. Vieira foi expulso com os jesuítas do Maranhão e embarcado à força para Lisboa. Os índios perdiam um dos seus mais fervorosos defensores.»

 

Fonte:

https://nationalgeographic.sapo.pt/historia/actualidade/1719-padre-antonio-vieira-defensor-dos-indios?fbclid=IwAR3R6tNQOWU9_ZcaWoK8zCjsABrpyYgBv4H6D5X4vQ-OPbgGhKd3EV4VMtM

 

***

«Repondo alguns factos históricos:

103988445_1540741866103284_8706789391411564975_n.j

 

Sinceramente, até desconfio que quem vandalizou a estátua do Padre António Vieira, em Lisboa, foram os neonazis do "Bosta!" para incendiar os ânimos (uma técnica típica neonazi...); mas, seja como for, é importante repor aqui os factos históricos.



António Vieira foi um pensador muito avançado para o seu tempo. Não era um colonialista, até foi expulso do Brasil por se opor aos colonos, ao modo como escravizavam e oprimiam os ameríndios e os africanos, e pregou e escreveu copiosamente contra a escravatura. Foi também perseguido pela Inquisição por ter uma visão de síntese espiritual inclusiva e multicultural que se opunha ao anti-semitismo e anti-islamismo do 'santo ofício' português.


Em suma, se há uma figura histórica portuguesa que em absoluto não merece o rótulo de colonialista e esclavagista é precisamente o Padre Vieira.


É preciso afirmar aqui que, se fosse vivo, António Vieira, homem vertical e corajoso, estaria pregando e escrevendo contra o fascismo, o nacionalismo, o racismo e o monoculturalismo do extremismo ideológico.


Portanto, os neofascistas nacionalistas que tenham o pudor de não instrumentalizar essa figura que se situa nos antípodas da sua miserável visão fanática monocultura racista.



E os activistas anti-racistas que aprendam História, e canalizem a sua energia para o futuro, apreendendo as lições da História que nos diz que quem gosta de apagar, decapitar e vandalizar vestígios do passado são precisamente os fascistas... Não é através do niilismo destruidor que algo de evoluído e benéfico poderá ser construído. Os fins não justificam os meios; os meios devem já em si prefigurar os fins que desejam.



Ainda umas palavras sobre o derrube e decapitação de estátuas em vários países na esteira de 'protestos' ‘anti-racistas’.

O passado não pode, ou deve, ser apagado, seus aspectos negativos devem ser ultrapassados aqui e agora dentro do Espírito humano, criativamente e construtivamente sublimados e transmutados, apreendendo as suas lições, e evoluindo através delas.

A História é o longo percurso de aprendizagem da espécie humana, percurso feito de muitos erros e horrores, mas um caminho que também possibilitou que paulatinamente ideias luminosas como os direitos humanos, a democracia, o multiculturalismo, o universalismo, o anti-racismo, a inclusão, pudessem expandir-se e enraizar-se. Não deitemos fora o bebé com a água suja do banho!

Viva o exemplo espiritualista luminoso do Padre António Vieira! Abaixo todos os extremismos! Todos os fascismos (que existem em ambos os extremos ideológicos)!
Paz e Unidade!

Miguel Santos»

 

Fonte:

https://www.facebook.com/MiguelSantosescritor/photos/a.617760231734790/1540741862769951/?type=3&theater

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:21

link do post | Comentar | Adicionar aos favoritos
Segunda-feira, 9 de Janeiro de 2017

O JESUÍTA DE MÁRIO SOARES

 

MÁRIO.jpg

Este é o  Mário Soares que recordo, o que me surpreendeu, e está representado nesta imagem (ao lado de Cunhal, que também me surpreendeu) e no que ela significou e significa (a imagem) na revolução de Abril.

 

Desde a sua morte, no passado dia 7 de Janeiro, já tudo se falou de Mário Soares: do nascimento à vida, da vida à morte, tudo já foi esmiuçado. Todos já deram o seu testemunho. Por isso nada tenho a acrescentar a esse tudo que já foi dito, a não ser que ninguém é perfeito. Mário Soares deixou-nos um legado de coisas muito boas, outras menos boas, e outras que poderiam ter sido boas se as tivesse feito (aliás, ainda ninguém foi capaz de as fazer) como, por exemplo, destruir os lobbies que mandam na Assembleia da República.

 

Porém, gostaria de deixar aqui um testemunho, que sendo o meu, vale o que vale, mas não pretendo repetir o que todos já disseram.

 

De todos os políticos que passaram pela minha vida, enquanto jornalista ao serviço de vários jornais diários nortenhos, durante vinte anos, tenho uma pequena história para contar.

 

De Mário Soares tenho a história do jesuíta.

 

Enquanto presidente da República, um dia, Mário Soares fez um périplo por algumas cidades do norte de Portugal, entre elas Santo Tirso e Vila do Conde. Em Santo Tirso ofereceram-lhe uma caixinha com jesuítas, o ex-libris da doçaria daquela cidade.

 

Naturalmente a caixinha viajou de Santo Tirso para Vila do Conde, nas mãos de algum segurança ou secretário.

 

Em Vila do Conde, depois de ter sido recebido no salão nobre da Câmara Municipal, seguiu-se um almoço, bastante informal (porque Mário Soares era pouco dado a protocolos, ou seja, não era um presidente-vedeta inacessível ao povo. Não, não era).

 

Os jornalistas foram convidados para esse almoço, e quem teve assento comeu, quem não teve não comeria (eu não comi). A mesa era rectangular e Mário Soares estava sentado à cabeceira, sozinho. Os restantes convidados, uns tiveram assento, outros não, porque, na verdade, a sala era demasiado pequena para a muita gente que Mário Soares sempre reunia à sua volta, por onde quer que passasse.

 

Os jornalistas rodeavam-no para não perder “pitada” do que dissesse.

 

Eu estava bem posicionada. Bem ao seu lado. Em pé. Comeu-se (quem pôde comer, obviamente) e chegado o momento da sobremesa, Mário Soares lembrou-se dos jesuítas. Onde estão os meus jesuítas? Logo um dos da sua comitiva passou-lhe para as mãos a caixinha dos jesuítas, que Mário Soares desembrulhou gulosamente (pareceu-me).

 

E lá estavam eles. Lourinhos. Apetitosos. Eu também era (sou) muito gulosa, e adoro jesuítas. Mas Mário Soares não sabia deste detalhe, obviamente.

 

O Presidente já tinha dado conta da minha presença, ao seu lado, pois de vez em quando dizia para não escrever tudo o que ele dizia, o que, pela minha parte, foi escrupulosamente cumprido (pois nunca fui de trair a Ética Profissional).

 

Diante dos jesuítas, Mário Soares arregalou os olhos e disse que não podia oferecer a todos, porque evidentemente não chegavam para todos.

 

Mas para não ser indelicado, quis oferecer, pelo menos um a alguém, para não ficar a comer sozinho aquela guloseima.

 

Foi então que olhou para mim e perguntou como me chamava. Isabel. Respondi. O nome da minha filha. Disse ele. E muito gentilmente pediu-me para que aceitasse um jesuíta e o acompanhasse nessa sobremesa, uma vez que não poderia partilhar esse gesto com todos.

 

Aceitei com muito gosto e senti-me uma privilegiada, por vários motivos: primeiro, porque ainda não tinha comido nada; segundo, porque adorava jesuítas; e terceiro, porque o Mário Soares que me tinha surpreendido ao lado de Álvaro Cunhal (que também me surpreendeu) naquela histórica manifestação de rua, tinha-me concedido a honra de comer um jesuíta com ele.

 

Esta é uma história banal? Pode ser.

 

Mas é uma história que fica na minha história, e onde eu sou uma simples figurante numa cena onde o protagonista foi obviamente Mário Soares.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 19:34

link do post | Comentar | Adicionar aos favoritos

Mais sobre mim

Pesquisar neste blog

 

Março 2024

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
14
15
16
17
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31

Posts recentes

O Padre António Vieira, e...

O JESUÍTA DE MÁRIO SOARES

Arquivos

Março 2024

Fevereiro 2024

Janeiro 2024

Dezembro 2023

Novembro 2023

Outubro 2023

Setembro 2023

Agosto 2023

Julho 2023

Junho 2023

Maio 2023

Abril 2023

Março 2023

Fevereiro 2023

Janeiro 2023

Dezembro 2022

Novembro 2022

Outubro 2022

Setembro 2022

Agosto 2022

Junho 2022

Maio 2022

Abril 2022

Março 2022

Fevereiro 2022

Janeiro 2022

Dezembro 2021

Novembro 2021

Outubro 2021

Setembro 2021

Agosto 2021

Julho 2021

Junho 2021

Maio 2021

Abril 2021

Março 2021

Fevereiro 2021

Janeiro 2021

Dezembro 2020

Novembro 2020

Outubro 2020

Setembro 2020

Agosto 2020

Julho 2020

Junho 2020

Maio 2020

Abril 2020

Março 2020

Fevereiro 2020

Janeiro 2020

Dezembro 2019

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Agosto 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Direitos

© Todos os direitos reservados Os textos publicados neste blogue têm © A autora agradece a todos os que os divulgarem que indiquem, por favor, a fonte e os links dos mesmos. Obrigada.
RSS

AO90

Em defesa da Língua Portuguesa, a autora deste Blogue não adopta o Acordo Ortográfico de 1990, nem publica textos acordizados, devido a este ser ilegal e inconstitucional, linguisticamente inconsistente, estruturalmente incongruente, para além de, comprovadamente, ser causa de uma crescente e perniciosa iliteracia em publicações oficiais e privadas, nas escolas, nos órgãos de comunicação social, na população em geral, e por estar a criar uma geração de analfabetos escolarizados e funcionais. Caso os textos a publicar estejam escritos em Português híbrido, «O Lugar da Língua Portuguesa» acciona a correcção automática.

Comentários

Este Blogue aceita comentários de todas as pessoas, e os comentários serão publicados desde que seja claro que a pessoa que comentou interpretou correctamente o conteúdo da publicação. 1) Identifique-se com o seu verdadeiro nome. 2) Seja respeitoso e cordial, ainda que crítico. Argumente e pense com profundidade e seriedade e não como quem "manda bocas". 3) São bem-vindas objecções, correcções factuais, contra-exemplos e discordâncias. Serão eliminados os comentários que contenham linguagem ordinária e insultos, ou de conteúdo racista e xenófobo. Em resumo: comente com educação, atendendo ao conteúdo da publicação, para que o seu comentário seja mantido.

Contacto

isabelferreira@net.sapo.pt