Dizem-me os filósofos que a ciência não busca devidamente - e por ordem de prioridades - os conhecimentos mais indispensáveis às necessidades e à felicidade do homem. Os cientistas, por sua vez, dizem-me que a filosofia não sabe explicar – com rigor - as descobertas científicas alcançadas.
Fonte da imagem: https://www.madrimasd.org/blogs/universo/2013/09/13/144426
Reconheço a minha ignorância, ou limites, quer de uma quer da outra: ciência e filosofia. Porém, tenho conhecimento que a filosofia foi uma grande senhora há cem anos: entrava pelas instituições, habitava nos palácios reais, comandava os estabelecimentos de ensino, as religiões e anotava os desvios socias, com os seus comportamentos anárquicos e por aí fora.
A ciência não dominava nesses tempos longínquos. Actuava despercebidamente, envergonhadamente, incerta, medrosa e poucas vezes concluía, com certezas, da sua acção praticada.
Pelo que, embora a filosofia tenha sido desviada do ensino, ela continua activa, vai explicando o que pode, pela simples razão de que é a filosofia que explica a ciência.
Os filósofos, queixam-se-me, e eu limito-me a escutá-los, pois melhor não sei fazer.
Dizem-me que a ciência não consegue explicar a existência de Deus e a da alma no homem. Apenas dizem que o homem e a natureza sofrem e/ou beneficiam da evolução, defendida por Charles Darwin. Mas a filosofia exige que a ciência diga de onde vem o poder, de o homem e da natureza, terem a evolução.
De Deus, dizem os cientistas, ainda não conseguimos lá chegar. A alma, concretamente, também não, pois não sentimos que o indivíduo possa ser duas coisas: corpo e alma, pois é um individuo, um só ser que está à vista.
Ora os filósofos, embora aceitem que a ciência prova que o homem tem consciência – diferente de alma – acusam-nos dessa banal afirmação, porque qualquer lorpa – dizem os filósofos – sabe que o homem tem consciência total de si mesmo: tem a sensação do desejo, da dor, do amor, da raiva, da imagem, da tristeza ou da alegria, da felicidade ou infelicidade e muitos mais atributos.
Queixam-se ainda os filósofos, de que a ciência, em relação aos animais, pouco avançou. Apenas descobriram que os animais têm (somente) o instinto de caçar para comer e o instinto de defesa. Pelo que, diz a ciência, logo que os animais não tenham fome e não se sintam em perigo, dormem e fazem sexo – mas não têm a consciência desse gasto nem a consciência do amor aos filhos que a fêmea pariu.
Sendo verdade que a ciência pouco ou nada se preocupa em descobrir a existência de Deus e da alma (no homem), preocupou-se apenas em recordar á Humanidade que o homem é dotado de consciência com os atributos acima descritos.
Se a consciência tem a lei gravada em si, como pensar, agir, julgar, podemos dizer também que o raciocínio vem da consciência. E que dirão a filosofia e a ciência, da inconsciência que existe na humanidade, sobretudo em homens inteligentes ou de grandes responsabilidades sociais?
Ora a inconsciência, se estamos de acordo, define/tem-na o animal e o homem. Logo, a inconsciência é irracional e o mais que pode conseguir é actuar pelo faro, do qual não tem consciência.
E se estamos de acordo que há homens inconscientes, pois podem estar endemoninhados, desnorteados, exaltados, fanáticos e muito mais estados de inconsciência, porque não apontar meia dúzia de inconscientes bem conhecidos do planeta e da história, de homens sem Deus ou com Ele, sem alma ou com ela?
Que consciência terá tido um Lenine e um Stalin da União Soviética, um Trotsky e um Mao Tsé-Tung da China, um Kin Jong-Um da Coreia do Norte ou um Vladimir Putin, invasor da Ucrânia ou de um Hitler da II guerra mundial? E que dizer da consciência de um Trump da América e de um Bolsonaro do Brasil, de um José Sócrates e de um Ricardo Salgado em Portugal?
Toda esta canalhocracia, é consciente ou inconsciente? Têm Deus e alma ou são portadores de instinto e faro como a animalidade? A ciência ainda não estudou a inconsciência de muitos homens e a filosofia, por isso mesmo, não pode explicar mais nada. Portanto, avenham-se.
A ciência que conheço, é a tarimba da vida e, a filosofia que anuncio é a paz, a justiça social e o bem comum, que tardam.
Artur Soares
(O autor não segue o acordo ortográfico de 1990)
Copyright © Isabel A. Ferreira
Hoje apetece-me mergulhar no pensamento dos meus filósofos, dos Homens que ainda nos fazem acreditar na capacidade da razão humana.
Hoje, aproveitarei uma citação do filósofo e estadista latino, Marco Túlio Cícero, (que serve de título a esta crónica) para enviar uma mensagem discreta àqueles que, porventura, estarão confusos acerca da interligação entre Honra e Justiça.
E tudo isto vem a propósito de tantas coisas que acontecem no dia a dia, comigo, com outros, com tantas e tantas pessoas...
Na verdade, chegamos à conclusão de que não pode haver Honra onde não existe Justiça.
Ao que podemos verificar, o conceito de Justiça, isto é, aquela virtude moral que inspira (ou deveria inspirar) o respeito pelo Direito de outrem anda muito desvirtuado.
E o que dizer da Honra? Aquele sentimento que leva (ou deveria levar) o homem a procurar a consideração pública pelo cumprimento do dever e pela prática das boas acções... onde está ele?
Hoje em dia, são raras aquelas pessoas para quem estas moralidades, ou seja, estas doutrinas dos costumes e dos deveres do Homem para com os seus semelhantes, têm algum significado.
Para mim, a Justiça ainda é uma questão de Honra, por isso, dela não abdico.
Um dia, li algures: «Se os criminosos não forem punidos, como poderemos acreditar na Justiça?»
É um facto. Vivemos numa sociedade em que os valores afectos ao Homem estão a desvirtuar-se vertiginosamente. O respeito pelo próximo dilui-se como o pó em água. O respeito pelas leis e pelos direitos é constantemente violado, das mais variadas formas, e por quem devia defendê-lo.
E o que acontece?
Assiste-se a este desmoronamento de valores, impávida e serenamente, e quem ousa levantar a voz contra essas imoralidades, é molestado por tal ousadia, tal como acontecia na Idade das Trevas.
«As nossas opiniões não poderão sobreviver, se não tivermos oportunidade de lutarmos por elas», dizia Thomas Mann. E é precisamente essa a minha filosofia.
Como poderei ficar quieta no meu canto, acomodada, indiferente, se o mundo ao meu redor se desmorona tão aparatosamente?
Que devo fazer das minhas ideias? Dos meus ideais? Dos sonhos que ainda sonho? Da vida que tenho para viver?
Enterro-os na areia e deixo que as ondas do mar os levem para as profundezas dos abismos?
Tal seria o mesmo que regressar à Idade das Trevas. Mas eu vivo (todos nós vivemos) no século XXI D. C..
E o que se vê? Uma regressão vertiginosa da Razão, dita humana. A desinteligência a tomar o lugar da inteligência. E a percepção deste fenómeno constrange-me.
Henri David Thoreau, um escritor norte-americano, disse certa vez que «a Sabedoria contém o Desespero»; daí que eu deduza que a Ignorância contém a Indiferença. E isso é o pior dos males.
Quem consegue ver mais além do que os seus olhos podem alcançar, vive num constante desassossego, pois tem a nítida percepção do que poderia ser a vida se pudesse eliminar, por completo e definitivamente, a ignorância que ainda está instalada nas sociedades ditas humanas.
O nosso sábio poeta Luiz de Camões cantou num dos seus versos: «Mais c’o saber se vence, que c’o braço».
E esta é uma verdade irrefutável.
Quem deveria ter a percepção destes “fenómenos humanos”, porém, não a possui e dá mau exemplo a quem já tem a visão curta.
Por isso, esta nossa sociedade está virada do avesso, e a Justiça não existe porque se perdeu a Honra.
Para finalizar esta divagação, citarei um pensamento do estadista britânico Sir Winston Churchill: «A Coragem é a primeira das virtudes humanas, porque é ela que garante todas as outras».
Por vezes, sou abordada pelas pessoas que costumam ler as minhas crónicas, e falam-me da “minha coragem” ao tratar determinados assuntos. Talvez seja essa a minha única virtude. Mas, na verdade, ela é necessária para se enfrentar a vida de frente, se bem que nos traga muitos dissabores e inimigos.
Já lá diz o povo: «Viver não custa, o que custa é saber viver». Contudo, para se saber viver há que ter coragem de enfrentar certos monstros que nos barram o caminho, até porque para trás anda o caranguejo, e como o homem não é um caranguejo não posso aceitar que ele recue tão grosseiramente.
A propósito das citações de que, por vezes, me valho para ilustrar as minhas crónicas, e para aqueles que criticam o “saber enciclopédico”, gostaria de dizer que os filósofos, os pensadores, os sábios, deixaram-nos o seu legado de inteligência, para nele podermos reflectir, e se com ele concordarmos, utilizá-lo para bem da Humanidade.
É o que faço.
E, como diz o povo francês:
«Não há almofada mais fofa do que uma consciência tranquila».
Isabel A. Ferreira
Esta, veio de França… um país que já foi o centro do Iluminismo***
Eis um vídeo que mostra um touro jovem a quem cortaram as orelhas ainda em vida (4life Anti-tauromaquia)
*** O Iluminismo foi um movimento cultural da elite intelectual europeia do século XVIII que procurou mobilizar o poder da razão, a fim de reformar a sociedade e o conhecimento herdado da tradição medieval. Abarcou inúmeras tendências e, entre elas, buscava-se um conhecimento apurado da Natureza, com o objectivo de torná-la útil ao homem moderno e progressista.
Originário do período compreendido entre os anos de 1650 e 1700, o Iluminismo foi despertado pelos filósofos Baruch Spinoza (1632-1677), John Locke (1632-1704), Pierre Bayle (1647-1706) e pelo matemático Isaac Newton (1643-1727).
O que as universidades ensinarão aos jovens? A serem cobardes? Um comportamento para ser verdadeiramente ético (convém não esquecer que vivemos em sociedade…) terá de responder a estas três perguntas: 1- Quero fazer isto? 2- Devo fazer isto? 3- Posso fazer isto?
Vejamos o que diz Isabel Godinho, uma jovem portuguesa (com a lucidez que falta aos governantes portugueses) a propósito da afirmação de um tauricida, que a confrontou com o “estilo de vida” dos que torturam e matam bovinos para diversão.
«O que chamam “tradição” e querem defender a todo o custo, consiste na tortura e morte de animais sencientes, para divertir uma minoria perversa.
É impossível compreender que tipo de mentes se entretêm a ver animais vivos a serem torturados.
Pergunta-se: e se fosse um maluco, pela rua fora, a espetar um cão? E se fosse um psicopata que gostasse de espetar pessoas até à morte, com uma lança? Não iríamos querer que a polícia os encontrasse e prendesse? Ou será que iria aparecer alguém a dizer que o estilo de vida do psicopata era matar pessoas e que, por isso, ninguém podia interferir? Parece sensato? Pois a mim não...
Estar ou ser contra touradas não é apenas não gostar e querer estragar a vidinha dos que gostam, é perceber que torturar um animal é contra princípios de respeito, não maus-tratos e protecção e querer defender esses princípios porque são comuns a todos e não apenas “à vida dos outros”».
***
Um outro aspecto.
Coloquei a um defensor convicto dos direitos dos animais esta questão:
«Arsénio, será que a liberdade de... e o direito de... vão no mesmo sentido? Ou serão conceitos diferentes?»
O cidadão Arsénio Pires, também com a lucidez que falta aos governantes portugueses respondeu-me:
«Isabel,penso que você toca no grande problema: o que é Ética?
Penso que ter liberdade para fazer uma coisa não pode querer dizer que eu tenho o direito de a fazer. Ex: Posso ter liberdade para fazer uma coisa que vai contra a autêntica liberdade de alguém. Logo, não tenho o direito de executar essa coisa (acção, palavra, atitude, gesto, etc.). Aqui, a minha liberdade tem um limite.
Em meu entender, um comportamento para ser verdadeiramente ético (convém não esquecer que vivemos em sociedade…) terá que responder a estas três perguntas:
1- Quero fazer isto?
2- Devo fazer isto?
3- Posso fazer isto?
Disse Kant: Devemos agir de tal forma que a nossa ação possa ser transformada em lei universal de comportamento.
Isabel, haveria muito a dizer sobre o Homem verdadeiramente livre!»
***
Exactamente., Arsénio
Mas para isso seria preciso que o povo fosse culto e que os governantes fossem cultos também e tivessem lido, pelo menos, a Fundamentação da Metafísica dos Costumes e a Crítica da Razão Prática, para compreenderem o que querem, ou devem ou podem fazer. Para quem não sabe, Immanuel Kant foi o último grande filósofo dos princípios da era moderna.
O que é um homem verdadeiramente livre?
Eis o busílis da questão.
O homem verdadeiramente livre será aquele que, apenas porque gosta, porque lhe dá prazer, porque lhe convém, porque até ganha dinheiro com isso, e em nome de uma coisa a que chama “tradição” sai por aí a torturar e a matar e a estropiar seres vivos (sejam humanos ou não humanos) com a crueldade própria dos esvaziados de uma alma humana?
Ou será aquele que com lucidez conhece os limites da sua liberdade?
Fórmulas da lei moral em Kant:
«Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal».
«Age como se os princípios da tua acção devessem ser erigidos pela tua vontade em lei universal da natureza».
«Age de tal modo que trates a humanidade, tanto na tua pessoa como na do outro, sempre como um fim e nunca como um meio.»
«O reino dos fins une os seres racionais, sob uma legislação comum. A pessoa tem um valor e uma dignidade sem preço.
«O dever é uma necessidade interna de realizar uma determinada acção apenas por respeito à lei moral (lei prática). O dever liberta o homem das determinações a que está submetido, substitui a necessidade natural. O dever impõe ao homem a limitação dos seus desejos e obriga-o a respeitar as leis morais da razão.»
Bertrand Russel um dos mais influentes matemáticos, filósofos e lógicos que viveram no século XX, respeitado por inúmeras pessoas como uma espécie de profeta da vida racional e da criatividade, resume assim o pensamento de Kant:
"A moral só existe quando o homem actua segundo o dever. Não basta que o acto seja tal como o dever pode prescrever. O negociante honesto por interesse ou o homem bondoso por impulso não são virtuosos. A essência da moralidade deriva do conceito de lei; porque embora tudo na natureza actue segundo leis, só um ser racional pode actuar segundo a ideia de lei, isto é, por vontade. A ideia de um princípio objectivo, que impele a vontade, chama-se uma ordem da razão e a fórmula é o imperativo".
in, «História da Filosofia».
Como diz Arsénio Pires: «Haveria muito a dizer sobre o Homem verdadeiramente livre!»
Na verdade, o que faz falta é a Cultura Culta.
O que faz falta é ler os grandes filósofos da humanidade.
O que faz falta é um sistema de ensino que conduza os jovens à plenitude da sua própria essência humana.
O que faz falta é educar o povo para uma cidadania responsável.
O que faz falta são governantes cultos que possam transmitir Cultura Culta e não se verguem à “cultura” e á identidade “cultural” dos broncos e lhes dêem primazia sobre a cultura dos verdadeiros homens livres.
Devia ser OBRIGATÓRIO um Certificado de Lucidez e Cultura Culta para os candidatos a governantes.
Fonte para as citações de Kant, cuja leitura recomendo aos senhores governantes e não só...
http://afilosofia.no.sapo.pt/12KantIntrod.htm
Se pensam que já viram tudo o que há para ver acerca das touradas, enganam-se.
Este é considerado o mais autêntico documentário sobre o mundo das touradas em Portugal e que revela, pela primeira vez e de forma objectiva, aquilo que fica evidente: todo o culto de violência que gira em torno da tauromaquia.
"Taking the Face – The Portuguese Bullfight" é um documentário assinado pelo polaco Juliusz Kossakowski que foi exibido na sessão de abertura do Artivist Film Festival na segunda passagem por Lisboa (6 de Dezembro 2008) e faz um retrato global da tourada portuguesa, vista pelos olhos de quem não a tem como tradição.
O filme acompanha a viagem de um touro “bravo” desde o nascimento até à morte, explicando no seu decorrer alguns rituais polémicos da velha “tradição”.
Inteiramente filmado em Portugal e realizado pelos realizadores de Hollywood Matthew Bishop e Juliusz Kossakowski, "Pega de Caras – A Tauromaquia em Portugal" não deixará ninguém indiferente!
Depois de o verem nunca mais poderão olhar para a tourada com olhos generosos, e os que olharem é porque no lugar do coração têm uma pedra.
Neste documentário poderão conhecer, por um lado, os testemunhos de aficionados, toureiros, forcados e de outros agentes tauromáquicos acerca daquilo que os encanta e lhes interessa na actividade bárbara que é a tauromaquia. Por outro, apresenta os testemunhos de cientistas, filósofos e activistas dos direitos dos animais que deixam fortemente defendido o caso a favor da abolição das touradas.
“Taking The Face” explora o fenómeno da tourada Portuguesa - um mundo cheio de contradições, paixão, fé e crueldade, a partir da formação de matadores que não podem matar em Portugal; passando pelos forcados coloridos que cobardemente atacam touros moribundos de cabeça erguida, sem armas, e acham que isso é “valentia”; pelos montadores fantasiados e os seus cavalos de dança, para um ritual bizarro do “garfo gigante”; e ainda pelo “espectáculo” de Barrancos - a única brutal excepção à lei (graças a um decreto do aficionado ex-presidente da República, Doutor Jorge Sampaio) a qual proíbe a morte do touro na arena, mas também o matam à revelia da lei, em Monsaraz (e noutros lugares [arenas privadas nas propriedades dos ganadeiros] às escondidas, para treino).
Eis o que se faz em Portugal, um país que se diz integrado numa Europa livre e civilizada, mas está à margem dessa civilização, juntamente com Espanha e França, que permitem esta barbárie nos seus territórios.
Isabel A. Ferreira
Copyright © Isabel A. Ferreira
Hoje apetece-me mergulhar no pensamento dos meus filósofos, dos Homens que ainda nos fazem acreditar na capacidade da razão humana.
Hoje, aproveitarei uma citação do filósofo e estadista latino, Marco Túlio Cícero, (que serve de título a esta crónica) para enviar uma mensagem discreta àqueles que, porventura, estarão confusos acerca da interligação entre Honra e Justiça.
E tudo isto vem a propósito de tantas coisas que acontecem no dia a dia, comigo, com outros, com tantas e tantas pessoas...
Na verdade, chegamos à conclusão de que não pode haver Honra onde não existe Justiça.
Ao que podemos verificar, o conceito de Justiça, isto é, aquela virtude moral que inspira (ou deveria inspirar) o respeito pelo Direito de outrem anda muito desvirtuado.
E o que dizer da Honra? Aquele sentimento que leva (ou deveria levar) o homem a procurar a consideração pública pelo cumprimento do dever e pela prática das boas acções... onde está ele?
Hoje em dia, são raras aquelas pessoas para quem estas moralidades, ou seja, estas doutrinas dos costumes e dos deveres do Homem para com os seus semelhantes, têm algum significado.
Para mim, a Justiça ainda é uma questão de Honra, por isso, dela não abdico.
Um dia, li algures: «Se os criminosos não forem punidos, como poderemos acreditar na Justiça?»
É um facto. Vivemos numa sociedade em que os valores afectos ao Homem estão a desvirtuar-se vertiginosamente. O respeito pelo próximo dilui-se como o pó em água. O respeito pelas leis e pelos direitos é constantemente violado, das mais variadas formas, e por quem devia defendê-lo.
E o que acontece?
Assiste-se a este desmoronamento de valores, impávida e serenamente, e quem ousa levantar a voz contra essas imoralidades, é molestado por tal ousadia, tal como acontecia na Idade das Trevas.
«As nossas opiniões não poderão sobreviver, se não tivermos oportunidade de lutarmos por elas», dizia Thomas Mann. E é precisamente essa a minha filosofia.
Como poderei ficar quieta no meu canto, acomodada, indiferente, se o mundo ao meu redor se desmorona tão aparatosamente?
Que devo fazer das minhas ideias? Dos meus ideais? Dos sonhos que ainda sonho? Da vida que tenho para viver?
Enterro-os na areia e deixo que as ondas do mar os levem para as profundezas dos abismos?
Tal seria o mesmo que regressar à Idade das Trevas. Mas eu vivo (todos nós vivemos) no século XXI D. C..
E o que se vê? Uma regressão vertiginosa da Razão, dita humana. A desinteligência a tomar o lugar da inteligência. E a percepção deste fenómeno constrange-me.
Henri David Thoreau, um escritor norte-americano, disse certa vez que «a Sabedoria contém o Desespero»; daí que eu deduza que a Ignorância contém a Indiferença. E isso é o pior dos males.
Quem consegue ver mais além do que os seus olhos podem alcançar, vive num constante desassossego, pois tem a nítida percepção do que poderia ser a vida se pudesse eliminar, por completo e definitivamente, a ignorância que ainda está instalada nas sociedades ditas humanas.
O nosso sábio poeta Luiz de Camões cantou num dos seus versos: «Mais c’o saber se vence, que c’o braço».
E esta é uma verdade irrefutável.
Quem deveria ter a percepção destes “fenómenos humanos”, porém, não a possui e dá mau exemplo a quem já tem a visão curta.
Por isso, esta nossa sociedade está virada do avesso, e a Justiça não existe porque se perdeu a Honra.
Para finalizar esta divagação, citarei um pensamento do estadista britânico Sir Winston Churchill: «A Coragem é a primeira das virtudes humanas, porque é ela que garante todas as outras».
Por vezes, sou abordada pelas pessoas que costumam ler as minhas crónicas, e falam-me da “minha coragem” ao tratar determinados assuntos. Talvez seja essa a minha única virtude. Mas, na verdade, ela é necessária para se enfrentar a vida de frente, se bem que nos traga muitos dissabores e inimigos.
Já lá diz o povo: «Viver não custa, o que custa é saber viver». Contudo, para se saber viver há que ter coragem de enfrentar certos monstros que nos barram o caminho, até porque para trás anda o caranguejo, e como o homem não é um caranguejo não posso aceitar que ele recue tão grosseiramente.
A propósito das citações de que, por vezes, me valho para ilustrar as minhas crónicas, e para aqueles que criticam o “saber enciclopédico”, gostaria de dizer que os filósofos, os pensadores, os sábios, deixaram-nos o seu legado de inteligência, para nele podermos reflectir, e se com ele concordarmos, utilizá-lo para bem da Humanidade.
É o que faço.
E, como diz o povo francês:
«Não há almofada mais fofa do que uma consciência tranquila».
Isabel A. Ferreira