(Para celebrar a Primavera, a Árvore, o Bosque, a Natureza)
… sou folha, sou erva, sou vento. Sou gota de orvalho suspensa na flor. Sou sombra, sou luz, sou nuvem que passa. Sou ave que voa até às estrelas e entre elas vagueio ao ritmo dos sons do amanhecer…
(…)
Entretanto, o caminho convergiu para um bosque que, à distância, parecia inacessível. As vozes, que se ouviam, sussurrantes, calaram-se e deram lugar à melodia das árvores. Ouvi, então, o uivo do vento, frágil e lento, enquanto os cedros, ciprestes, pinheiros, sicómoros, castanheiros, álamos, tílias, acácias, carvalhos, sequóias, salgueiros, e muitas mais espécies de árvores erguiam os seus ramos, no que parecia uma inocente súplica aos céus. E o entrançado de troncos e raízes muito antigas diziam da longevidade das árvores.
Uma luz coada rompia a folhagem, que moldava um rendilhado verde num fundo azul, já liberto da nuvem transparente que o cingia. E, por momentos, pareceu-me sentir os aromas acres do Outono, quando deambulava pelo meu pequeno bosque. Subitamente, apoderou-se de mim uma inquietude, um deslumbramento, um espanto diante de asas que, à nossa passagem, se levantavam dos ramos, e de olhos atentos que, por entre eles, espreitavam. Encontrava-me, sem dúvida, numa floresta intacta, como se tivesse sido acabada de criar, indomável, livre, imaculada, jamais tocada sequer pela sombra do homem, apesar dos velhos troncos e fortes raízes somarem séculos de existência, entre as humildes plantas silvestres que cresciam ao seu redor.
Parecia-me, aquele, o princípio do mundo, onde a vida propriamente dita começara, ou seria um ponto de chegada, o lugar para onde todos os caminhos convergiam? O arvoredo estendia a sua folhagem ao Sol que, altivo e fingindo-se indiferente, espargia a sua claridade sobre a floresta, e envolveu-me o perfume delicado da vegetação. Foi então que o sentido provisório do tempo se contrapôs à consciência do eterno, que se respirava naquele lugar, e voltei a sentir a sensação de estar perdido, algures, dentro de uma fábula.
À medida que avançava no caminho, deixei de ouvir o rumorejar do vento. Apenas se ouvia o som dos meus passos e o dos passos do Lobo, que seguia a meu lado, em silêncio. Pisávamos o chão juncado das folhas caídas dos abetos que grafavam mensagens secretas da terra e das águas, trazidas por uma aragem quase imperceptível, que rendeu o vento, na sua guarda ao bosque. Ali, naquele lugar, a Natureza havia desabrochado como um milagre. Uma delicada neblina erguia-se de um rio de águas vagarosas que margeava o caminho, e onde flutuavam cisnes melancólicos que, em silêncio, acompanhavam o nosso percurso. Naquele momento, senti o ritmo tranquilo da vida do bosque entranhar-se em mim como se fizesse parte do meu ser. Entre as árvores, que sempre me pareceram eternas, por ultrapassarem a existência dos homens, os animais da selva davam azo à sua liberdade. Contemplava-os, finalmente. Havia-os de todas as espécies. O seu discreto alarido contrastava com o silêncio imanente da floresta, que começava a ficar para trás. Deixámos as sombras. Diante de nós abriu-se uma planície imensa, grávida de verde, onde pastavam, pacificamente, numa partilha harmoniosa, nunca vista, leões, tigres, elefantes, girafas, servos, veados, lobos, panteras-negras…
(…)
O caminho estava traçado entre o arvoredo, como uma claridade e nele, distraidamente, eu ia pisando as sombras reflectidas no chão, pejado de folhas secas e flores murchas, evitando os fios de luz, que o Sol projectava por entre os ramos, num jogo que me entregou a infância.
(…)
Num lugar como aquele, verde, tingido de púrpura, onde soprava uma brisa vagarosa, e que um Sol, aparentemente ausente, enchia de contornos imprecisos, o tempo parecia não existir. Era eterno como as árvores e, nos momentos de profundo silêncio, parecia que a floresta estava adormecida.
in «A Hora do Lobo» © Josefina Maller
Tudo o que se tem passado ultimamente, ao meu redor, deixou-me desesperançada.
Esgotei as minhas forças.
Os “homens”, ditos racionais, andam loucos.
É o Luaty a perder a vida… por um sonho…
É a Língua Portuguesa a escorrer pelo cano de esgoto…
É este insistir na crueldade, quando a Vida palpita em todos os seres, do mesmo modo…
É Portugal a ficar cada vez mais enterrado em caminhos lamacentos…
É o povo que recua…
É o vazio que começa a ocupar este lugar onde decidi travar batalhas…
Estou farta.
Irei, por uns dias, para o meu refúgio, lá…entre o bosque e o riacho, nas montanhas da Galiza, onde encontro a Paz e a Harmonia de que tanto preciso, e que faz parte da minha natureza.
Pelos caminhos do bosque, entre campos verdes, ouvirei os pássaros e as águas cantantes de um riacho…
E cânticos gregorianos, entoados desde o século XII, me esperarão… lá… entre as pedras do mosteiro…
Isabel A. Ferreira
Estes são cães espanhóis, mas em Portugal também os há assim, nomeadamente no Alentejo.
Estes desventurados galgos não tiveram a sorte de ser abandonados no bosque para poderem caçar e beber água.
Foram abandonados por uns carrascos primitivos e desalmados, numa jaula para morrerem de fome e de sede.
Os caçadores são mesmo assim. O que esperar de cobardes portadores de genes assassinos?
A caça é uma reminiscência da época pré-histórica, mas o povo pré-histórico caçava por necessidade de sobrevivência.
Os caçadores do século XXI depois de Cristo caçam por instintos sanguinários.
Estes animais já estão a ser tratados por almas caridosas numa instituição.
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