Quinta-feira, 1 de Abril de 2021

«Tempos de Páscoa»

 

Cristo incendiou a História

Uma outra perspectiva acerca de Jesus Cristo, da autoria de Artur Soares.

 

Jesus Cristo.jpg

(Desenho da autoria de Agonia Sampaio,  premiadíssimo autor de Bandas Desenhadas, oriundo da Póvoa de Varzim)

 

Por Artur Soares

 

«Filho de pais bondosos e justos nasceu entre quatro paredes grosseiras, em pavimento (talvez) sujo e malcheiroso; de limpo só a manjedoura onde o dono dispôs o feno e a aveia.

 

Cresceu como qualquer criança e bem cedo aprendeu a trabalhar na madeira, crescendo em “grande sabedoria”. Analisava atitudes e conhecia como ninguém o ambiente ao redor, ao ponto de deixar estupefactos os intelectuais daquele tempo, pelo que afirmava aos doze anos.

 

Sua Mãe, atenta e justa com tudo que ao filho respeitava, “guardava para si” os actos, acções e a sua maneira de ser. Já homem, senhor absoluto da humanidade, fisicamente forte e alto, rude de aspecto como qualquer homem do seu tempo, inteligente e conhecedor dos sofrimentos e anseios de quem o rodeava, mete pés ao caminho e põe em acção a missão para o que veio: “servir e não ser servido” e o chocar com os ensinamentos do amor àqueles que eram feras, levando sempre tudo até às últimas consequências: morrer pelos testemunhos que dava e pelo plano que ia expondo: este Homem chamou-se Jesus Cristo.

 

Este Homem é! Alma aberta e profunda; Homem de recolhimento e voltado para a vida. O mundo exterior existe para Ele: as aves que debicam os grãos, as que fazem os ninhos nos ramos, as que são apanhadas e se vendem por alguns dinheiros, as crianças que brincam, que lutam, que amuam, os desempregados que esperam na praça por um contrato, a dona de casa que busca a moeda perdida, o amigo importuno que vai de noite bater à porta… tudo isto é cheio de vida, é cheio de humanidade!

 

Alma capaz de admirar ouve a voz da natureza. Nunca se extasia e sente-se à vontade em todas as coisas. Fala dos assuntos mais extraordinários e, às vezes, lê os pensamentos mais dramáticos através duma imagem familiar ou de imagens da natureza.

 

Ensina como só Ele é capaz, cura e ama os doentes, alimenta os famintos, dá esperança aos estáticos e até acalma os ventos e as tempestades. Ele é verdadeiramente Deus!

 

Perseguem-no: dizem que é profeta dos fracos e, afinal, deu força aos definhados e colocou-os mais alto que aos reis; disseram (dizem) que é anunciador duma mensagem doente ou moribunda, mas cura e ressuscita; disseram (dizem) que é anarquista e ensina e pratica a justiça elevando os infelizes!

 

E este Homem, Jesus de Nazaré, tem coração e fala aos corações; é espírito puro e quer purificar espíritos; ama e quer inflamar a todos com amor; tem alma grande e pretende dilatar todas as pequenas almas abandonadas.

 

Este Homem, quando falava às multidões, aos fariseus, homens de letras e comerciantes, muitos abanavam a cabeça com ar de mau agouro e erguiam-se torcendo a boca e fazendo sinais uns aos outros entre irritados e escandalizados e, mal saíam, um murmúrio de prudente desaprovação brotava das grandes barbas negras ou brancas. Mas nenhum ria.

 

Escolheu companheiros, nunca se preocupou com o que havia de vestir e de comer, formou a primeira Igreja e anunciou o Reino de Deus, quando pensavam que vinha para ser o rei da matéria. Por isso o mataram.

 

Mas Cristo está sempre vivo entre os cristãos e em todos que o admiram. Há quem o ame e quem o odeie; há uma paixão pela sua paixão e outra pela sua destruição. Os mercenários não acabam. Estes, geralmente, detestam o que foram, choram o que não têm, receiam o que poderão perder e esquecem-se de viver. Vivem inconformados, rapam o que não lhes pertence, julgam-se únicos nas cadeiras do poder, defendem-se com a mentira e hipocrisia e não conhecem os seus. E o encarniçarem-se contra Cristo, prova que vive.

 

Na verdade, Cristo foi uma fagulha que nasceu entre animais, cresceu numa região desprezada, mas incendiou a história de toda a humanidade! E os que foram pasto para feras e os que tombaram ao fio da espada, bem como aqueles que ainda hoje tombam por causa do Seu Nome, sempre serão adubo para cultivar novas safras de sementes.»

 

(Artur Soares)

 

(O autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico)

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:35

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Terça-feira, 2 de Fevereiro de 2021

As palavras que Deus nunca diria…

 

Copyright © Isabel A. Ferreira 2009

 

MINDINHA.jpg

A minha Mindinha - A gatinha mais sensível e meiga, de todas as gatinhas que já me acompanharam na Vida...

 

 

Se há verdades verdadeiras, uma delas é o meu inquestionável gosto pela leitura. Sem livros eu seria infeliz e vaguearia nas trevas. E porque gosto de ler, regresso quase sempre àqueles livros que em mim deixam cicatrizes na alma.

 

Desta vez reli «Da Imortalidade dos Animais – Uma esperança para as criaturas que sofrem», de Eugen Drewermann, uma edição de 1990, da Editorial Inquérito.

 

Precisava de fortalecer a minha esperança numa humanidade mais justa e mais condizente com a realidade da Vida. Não da insignificante vidinha de cada um. Mas de toda a Vida que nos rodeia: animais – humanos e não humanos – e plantas.

 

Este é um daqueles livros que deveria ser divulgado com grandes parangonas, nos meios de comunicação que habitualmente são utilizados para esmagar os nossos sentidos, com notícias de crueldades atrozes perpetradas contra essa Vida, que deveria ser preservada como um bem precioso e único. E ao contrário disso, é delapidada até ao indizível.

 

 «O que é a Vida?

Se usarmos do saber livresco diremos que Vida é o estado de actividade dos animais e das plantas. Deduzimos então que, no mundo conhecido, apenas os animais e as plantas vivem num estado de actividade desde que nascem. Uma pedra também nasce, e ali fica. Quieta. Não cresce. Morre, se a triturarem e a transformarem em pó. E o pó leva-o o vento. E quem chorará a morte de uma pedra? A galinha? Eu? Talvez outra pedra?!

 

Mas as pedras não choram, porque não vivem. A galinha vive. Eu vivo. Ambas choramos. Logo, a galinha e eu somos seres vivos. Somos animais.

 

Outros animais e plantas povoaram o Planeta muito tempo antes do homem. E cada um cumpriu a sua missão. Harmoniosamente. Animais de todas as espécies. Plantas, desde o miosótis ao mais frondoso plátano. Todos seres muito belos, mais-que-perfeitos. Seres sensíveis.

 

Só depois veio o homem, que encontrou um mundo fervilhando de vida até na mais pequenina fenda, entre os rochedos, à beira-mar.

 

No jardim vivia uma rosa. Viçosa e formosa. A rosa. O homem veio e disse: «Que linda é a rosa. É minha, pois não sou eu o dono do mundo? Vou levá-la comigo». E o homem arrancou a rosa da roseira, e a rosa murchou, e só o homem é que não viu. E continuou a clamar: «Eu sou o dono do mundo»!

 

Auto-intitulou-se um ser “superior”, só porque falava, pensava, fazia coisas com as mãos, que mais nenhum outro ser fazia. E, usando dessa pretensa “superioridade”, principiou então a maltratar os seus companheiros de vida: tortura e mata, por simples prazer, animais, plantas e até outros seres seus semelhantes. Polui as águas dos rios, dos oceanos e das fontes, que costumavam ser límpidas. Destrói as florestas que dão o oxigénio, sem o qual o planeta não respira. E tudo isto o homem vai fazendo em nome da tal “superioridade” e de interesses escusos, “valores” que desvalorizam a existência do próprio homem, e exterminam os animais e as plantas.

 

Durante milhares de anos, o planeta chamado azul foi azul da cor do céu; foi verde da cor dos prados; loiro da cor das searas; vermelho da cor do sol poente; teve todas as cores do arco-íris enquanto não veio o homem. Depois dele, e em nome da sua “superioridade”, o que foi um paraíso durante o reinado dos animais e das plantas, transformou-se em caos.

 

Se o lobo respeita o homem, porque não há-de o homem respeitar o lobo?

Se a árvore respeita o homem, porque não há-de o homem respeitar a árvore? Afinal, somos todos irmãos. Iguais, enquanto resultado do mesmo acto criador. Diferentes no modo como respeitamos a vida». (in Manual de Civilidade, da minha autoria).

 

Por esta altura (de touradas e de circos e de outros espectáculos anormais), eu, que tenho os animais não humanos e as plantas como meus irmãos (somos todos seres da mesma criação) necessito de ir buscar aos sábios, o alento que vive nas palavras que pensam e escrevem.

 

«Da Imortalidade dos Animais» começa com um poema que passo a transcrever:

 

«Vejam os animais, os bois,

as ovelhas, os burros;

acreditem, eles também têm alma,

também são seres humanos,

só que têm pêlo e

não podem falar;

são pessoas de tempos passados,

dai-lhes de comer;

vejam as oliveiras

e as vinhas... antigamente,

também elas eram seres humanos,

mas há muito, muito tempo,

e já não conseguem recordar;

mas o homem recorda

e por isso é humano.»

 

Nikos Kazantzakis

(Prestando contas a el Greco)

 

 

Neste poema, o que mais me enterneceu foi “acreditem, eles também têm alma”. Por fim, encontrei alguém que acredita naquilo que eu, desde criança, sempre acreditei.

 

Nunca tive dúvidas de que os animais têm uma alma como eu. Vivi com eles. Entre eles. Criei-os. Amei-os e fui amada por eles. Certo dia, teria eu uns sete anos, deram-me uma porquinha já desmamada. Adoptei-a como se fosse um cão ou um gato. E a minha relação com essa porquinha foi humaníssima. Era inteligente, brincalhona, limpíssima, e gostava de mim, tanto quanto eu gostava dela. Tinha a sua casinha no quintal, apenas para passar a noite. Uma casinha sem portas. Durante o dia, seguia-me para todo o lado. Há hora da sesta, dormia ao Sol, no tapete do meu quarto. Era da família.

 

Da família, foi também uma cabrinha, branquinha, que me ofereceram, quando a porquinha morreu num acidente, ao atravessar a estrada que dava para o fundo do meu quintal. E tal como a porquinha, a cabrinha também tinha alma e comunicava comigo com os seus “més” amorosos, com os seus olhares, com os seus maneios de cabeça. Tal como a porquinha, seguia-me para todo o lado, e gostava de mim tanto quanto eu gostava dela.

 

Vieram depois os pássaros, que faziam os ninhos nas árvores do meu quintal. Mais tarde, os cães, os gatos, e um ratinho branco, com uma história singular. Andava à solta na casa. Dormia onde queria. Por vezes, no meu travesseiro, e no meu ombro, enquanto eu escrevia. Com ele partilhava a maçã do meu pequeno-almoço. Tinha uns olhos penetrantes e melífluos e deixava os seus esconderijos secretos, quando eu o chamava pelo nome: Ratolinha. E ele lá vinha, a correr para a minha mão, onde se aninhava.

 

De todos os animais com quem já convivi, recebi um afecto imenso. Com eles aprendi grandes lições de vida, de felicidade, e também de profunda angústia, quando o momento final se aproximava.

 

E se os animais não têm alma, então também eu não tenho alma.

Tive uma gatinha, a mais sensível e meiga de todas as gatinhas, a qual, quando pressentiu que ia morrer, despediu-se de mim com um “miau” que ainda hoje me dói na alma (e já lá vão alguns anos).

 

A diferença, entre eles e eu, está apenas no verbo: eu utilizo as palavras para comunicar. Eles não. Contudo, comunicam através dos olhos, e é nos olhos dos animais que as suas almas se acolhem, e nos dizem as coisas mais extraordinárias.

 

Por tudo isto, não posso atribuir a Deus aquelas palavras que a Bíblia diz ter Ele proferido ao criar Adão e Eva: «Crescei e multiplicai-vos, enchei a Terra e sujeitai-a e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem sobre a Terra (Gn1, 28)».

 

Crescei e multiplicai-vos e enchei a Terra, talvez!

«Sujeitai-a e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem sobre a Terra», são palavras que Deus nunca diria. Fazemos parte da sua criação. Todos nós. Animais, humanos e não-humanos, e as plantas.

 

Apenas o homem seria capaz de pronunciar tais palavras, em nome de Deus, como tantas outras coisas fez e disse, em nome de Deus, apenas por conveniência, enchendo de vergonha a Humanidade.

E quem escreveu a Bíblia foram os homens. Não Deus.

 

Uma das vergonhas, entre as muitas outras vergonhas que desonram a essência humana do homem, é o modo como ele trata os animais, torturando-os, massacrando-os, experimentando-os, em nome da economia e da diversão.

 

Na contracapa «Da Imortalidade dos Animais» pode ler-se:

 

«Como corolário de uma tradição religiosa que superlativou o homem como ser imortal, destinado à salvação e à ressurreição, distinguindo-o de todas as outras criaturas terrenas, a nossa civilização despreza os animais e trata-os com uma crueldade inenarrável em nome da economia, da ciência e do espectáculo. Esta breve, mas profunda reflexão sobre a condição dos seres ditos “irracionais” é simultaneamente um manifesto em defesa dos seus direitos e uma busca dos laços que unem os homens aos animais, resultando numa visão renovada da própria espiritualidade humana».

 

Se há livros que deviam fazer parte de um estudo superior obrigatório, é este, para que os jovens possam desenvolver neles a ideia de que todos os seres animados têm alma, e se têm alma, são imortais, e se são imortais… lá nos haveremos de encontrar, e encontrando-nos, se quisermos alcançar um lugar no paraíso, teremos de prestar contas, e nessas contas, entre muitos outros dizeres, teremos de confessar: «Não maltratei nenhum animal», e os animais terão de dizer: «Não temos nenhuma queixa contra esta pessoa…». Coisas dos antigos. Mas eles sabiam o que diziam.

 

E quem assim falar, será o verdadeiro Homem, aquele a quem Deus sorrirá…

 

 

Para completar esta reflexão, eis algumas mensagens que mentes brilhantes nos deixaram acerca deste tema, todos eles Homens intemporais.

 

Chegará o dia em que todo o homem conhecerá o íntimo de um animal. E nesse dia, todo o crime contra o animal será um crime contra a humanidade.

 

(Leonardo da Vinci)

 

Quando o homem aprender a respeitar até o menor ser da criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar o seu semelhante!

 

Primeiramente, é a solidariedade com todas as criaturas que torna um homem verdadeiramente humano.

 

(Albert Schwweitzer – estadista, Nobel 1952)

 

A compaixão pelos animais está intimamente ligada à bondade de carácter e pode ser seguramente afirmado que, quem é cruel com os animais, não pode ser um bom homem.

(Arthur Schopenhauer)

 

A grandeza de uma nação e o seu progresso moral podem ser julgados pela maneira como os seus animais são tratados.

(Mahatma Gandhi)

 

A não-violência leva à mais alta ética, a qual é o objectivo de toda a evolução. Até que paremos de prejudicar todos os outros seres viventes, seremos ainda selvagens.

(Thomas Edison)

 

Para a pessoa cuja mente é liberta, há algo ainda mais intolerável no sofrimento dos animais do que no sofrimento dos humanos. Porque no caso dos humanos, pelo menos admite-se que o sofrimento é algo ruim e que aquele que o causa é um criminoso. Contudo, milhares de animais são desnecessariamente assassinados, todos os dias, sem sombra de remorso. E se alguém protesta contra isso, acaba por ser ridicularizado. E isso, por si só, é um crime imperdoável.

(Romain Rolland – Nobel 1915)

 

E só quem teve o privilégio de partilhar a existência com animais sabe que tudo isto é verdade. Eu sempre o soube, desde criança. Eles são meus iguais, porque criaturas da mesma criação. Sofrem e regozijam-se; sentem fome, frio, sede, dor, tal como eu; e quando a morte chega, olham-nos com um olhar que diz tudo o que as palavras não dizem. Eles partem, mas esperam por nós, para confirmarem: «Não temos nenhuma queixa contra esta pessoa».

E então Deus sorrirá…

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:25

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Segunda-feira, 16 de Março de 2020

Saudação à Mãe Natureza

 

 

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«Ouço-te, Grande Espírito,

Faço-o através dos ouvidos do meu Espírito Lobo.

Ouço-te, Grande Espírito, nas árvores, como o vento entre a tua folhagem, pela noite, ao redor do meu povo.

Ouço a Tua voz nas águas, correndo sobre as pedras.

Ao lado da minha família e da minha gente, ouço o Teu Espírito em todas as coisas…

Vejo-te, Grande Espírito.

Vejo-te através dos olhos do meu Espírito Falcão.

Encontro o teu rosto, ao olhar os olhos das crianças do meu povo.

Vejo-te quando olho as estrelas,

No manto da noite que cobre o meu lar.

Grande Espírito, vejo o teu labor nas pinceladas da paisagem, pintando no deserto que me rodeia, vejo o Teu Espírito em todas as coisas…

Encontro-te, Grande Espírito,

Saboreio-te através da língua do meu Espírito Serpente.

Experimento a tua ânsia pela minha sabedoria, deleito-me na Tua tolerância perante a minha aprendizagem.

Encontro-te, Grande Espírito,

Aprecio a Tua compaixão pela minha alma, saboreio o Teu Espírito em todas as coisas…»

 

Oração Hopi

 

(Os HOPI são uma nação nativa norte-americana que vive principalmente na Reserva Hopi no noroeste do Arizona, rodeada pela Reserva Navajo. Alguns Hopi vivem na reserva indígena do Rio Colorado, no Oeste do Arizona).

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 11:58

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Segunda-feira, 12 de Dezembro de 2016

Alma, Razão e Senciência nos Animais

 

(Texto dedicado a todos os animais humanos da "espécie" ICE

(Incompatível Com Evolução)

 

JEREMY.jpg

 

Texto de Sônia T. Felipe (***)

 

«No livro «Acertos Abolicionistas» publiquei um texto (A dignidade dos cadáveres e lugares sagrados, p. 55) abordando a proibição do bispo D. Odilo de enterrar animais de estimação junto com seus pais adoptivos nos cemitérios humanos. Para esse bispo da Igreja Católica, fazer isso tira a dignidade dos humanos. Comer cadáveres não tira, mas enterrar os cadáveres dos animais amados junto com o cadáver de quem os amou tiraria.

 

O Papa Francisco acaba de declarar que os animais têm alma e que elas vão para o céu. Finalmente! É a primeira vez na história papal que o dogma do vivo-vazio de alma, disseminado por Descartes no século XVII é derrotado por um Papa. E eu estava esperando por isso há quase quatro séculos.

 

Enfim, se os animais têm alma, o que todos nós sempre soubemos acerca de todos os animais, inclusive dos que são comidos pelo Papa Francisco (não estou atacando o Papa, não, tenho aqui em casa o livro das receitas predilectas de todos os papas e não há uma sequer vegana!) e por todos os católicos e cristãos ao redor do mundo, eles têm senciência.

 

Se há senciência em qualquer animal, a capacidade de sentir como dor ou prazer os estímulos do ambiente natural ou social, então há racionalidade também, ainda que cada animal tenha sua forma de raciocinar (que já expus nos outros dois livros, «Ética e Experimentação Animal» e «Por uma Questão de Princípios»), uma forma adequada ao tipo de sensibilidade e de consciência de sua espécie e do indivíduo que vive experiências que outros podem não viver.

 

Ao contrário do que algumas pessoas pensam, ser racional não é ser apenas frio e calculista, não é visar obter apenas vantagens para si. Portanto, a razão não é apenas a capacidade mental de planejar vinganças, típica da mente humana, embora ela esteja imbricada nessas acções. Geralmente, a prática do mal está mais ligada às emoções fora do controle do que, justamente, ao controle delas pelo raciocínio.

 

A racionalidade é a capacidade de raciocinar para manter-se vivo da forma mais segura possível. Essa existe em cada espécie animal e é desenvolvida no ambiente natural delas e pelas interacções sociais. Os animais são seres políticos, no sentido aristotélico que designa a vida só possível "entre os muitos".

 

Nossas vidas e as vidas de todos os animais incluem a presença de outros animais que cada indivíduo animal deve aprender a conhecer para poder distinguir se neles há, ou não, ameaça e riscos para sua própria sobrevivência. Esse é um aprendizado da razão.

 

A senciência é a capacidade de sentir as coisas e de as traduzir com alguma emoção-chave, do tipo: muita dor, dor, desagradável, desconfortável; ou, muito prazeroso, prazeroso, agradável, confortável.

 

Uma vez arrumadas essas informações na memória, cada animal segue se orientando por elas e procurando se aproximar mais das coisas e dos outros animais que propiciam sensações de prazer em todas aquelas gradações, ou se afastar das coisas e dos outros animais que provocam as sensações ruins.

 

Mas para que esse arquivo possa ser ordenado e consultado de cada vez, é preciso que ali haja também a capacidade da razão. E a razão vai se ampliando a cada nova experiência, porque na memória do animal existem muitas informações que ele pode usar para se preservar em vida e preservar a vida dos que dependem dele para isso, seus filhos pequenos, seus pares na hierarquia social. Isso é racionalidade. Todos os animais são racionais a seu modo específico, a seu próprio modo.

 

Apenas os humanos usam a razão e são racionais no sentido de planejar obter o máximo de vantagens para si à custa do máximo de desvantagem para outros animais: éguas, vacas, porcas, galinhas, ovelhas etc., e seus pares machos.

 

MANDELA.jpg

 

Todos os animais são racionais, cada um dentro do parâmetro de raciocínios que sua mente específica requer e possibilita. Se não houvesse razão nos animais, para que serviria sua capacidade de sentir dor e de sofrer, de sentir-se bem e de estar feliz?

 

A dor e o sofrimento são as duas chaves das portas de entrada das informações ambientais para que o animal possa se defender delas a seu próprio modo, evitá-las e comportar-se de modo a não pôr sua vida em risco quando não há outros meios (e no caso dos animais os meios são muito escassos) para se defender do mal.

 

E, para que possamos entender a evolução moral da nossa espécie, que agora inclui os animais no âmbito do devido respeito moral e jurídico, é bom lembrar do que afirma Frans de Waal: «temos a capacidade de agir moralmente, porque somos animais

 

É a racionalidade presente em todos os animais que permite a cada um deles entender que o bem do seu grupo é uma garantia para o próprio bem; que o mal de seu grupo é ameaça contra seu bem próprio.

 

 

Confúcio também se refere à capacidade ou incapacidade da mente humana de suportar a dor no outro, porque essa mente sabe muito bem que toda dor que se espalha no mundo espalha-se de tal modo que ela tem efeito bumerangue. Um dia, sem que a gente menos espere, ela está à nossa porta. Não é vingança. É colheita.

 

Para essa semana pré-natalina, é bom que pensemos que todos os animais sentem dor e sofrem, todos querem estar na vida sem essa dor e tormento, e todos sabem que o que causa dor é sempre algo que ameaça a integridade física, psíquica ou social de cada animal senciente.

 

Todos os animais são racionais, no sentido explicitado, e, agora, acabamos de saber pelo Papa Francisco, que todos os animais têm alma, conforme já o escreveu Irvênia Prada (Médica e Professora da Faculdade de Veterinária da USP), em seu livro sobre a alma nos animais.

 

O círculo está cada vez mais apertado para os antropocentristas, especistas e bem-estaristas. É melhor desassinar esse contrato cheio de cláusulas perversas desfavoráveis a todos os animais. Moralidade é a capacidade de ampliar o campo da racionalidade. E já não somos mais inocentes no que diz respeito à senciência, racionalidade e à alma dos animais outros que não os humanos.»

 

(***) Sônia T. Felipe é doutorada em Filosofia Moral e Teoria Política, pela Universidade de Konstanz, Alemanha; professora reformada da graduação e pós-graduação em Filosofia, e do doutorado interdisciplinar em Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina; orientou dissertações e teses nas áreas de Teorias da Justiça, Ética Animal e Ética ambiental.

 

(Aviso: este texto foi reescrito para Língua Portuguesa, através de corrector ortográfico).

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:36

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Sexta-feira, 30 de Setembro de 2016

A VERDADEIRA ESSÊNCIA DO VERDADEIRO HOMEM…

 

Este é um verdadeiro HOMEM.

 

Não é feito de plástico, nem de lixo, nem de cimento…

 

Tem alma, tem coração, tem sensibilidade…

 

É simplesmente um HOMEM.

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 11:09

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Domingo, 28 de Agosto de 2016

OS ANIMAIS NÃO HUMANOS TAMBÉM TÊM SENTIMENTOS E DIVIDEM CONNOSCO O PRIVILÉGIO DE TER UMA ALMA

 

Mas não é este ensinamento que a igreja católica passa aos seus “fiéis”, cuja esmagadora maioria comete as maiores barbaridades contra seres tão sencientes.

 

Um cão nunca abandona o seu dono, seja em que circunstância for.

 

Mas o dono de um cão abandona-o em qualquer circunstância…

 

FIEL AMIGO.jpg

Esta imagem está a correr mundo, e a emocionar os seres humanos mais sensíveis.

 

Vem-nos de Itália, onde nas localidades de Amatrice e Accumoli se registou um terramoto no qual morreram mais de uma centena de pessoas.

 

Os caixões das vítimas foram levados para um complexo desportivo, onde foram veladas por familiares, amigos governantes e gente anónima.

 

Entre essa multidão, encontrava-se um cão da raça Cocker Spaniel que, visivelmente triste, ficou a velar o corpo do seu dono junto ao caixão.

 

São assim os melhores amigos do Homem, mas por vezes, o Homem não é o melhor amigo do cão, e abandona-o, maltrata-o, tem-no como (mais) um objecto da casa, e não lhe dá qualquer atenção.

 

Penso que esta seria uma boa altura para a igreja católica tomar uma posição mais compassiva em relação aos animais não humanos, e pregar aos seus fiéis que eles, sejam cães ou de outra qualquer espécie, especialmente aqueles que são utilizados para divertimento dos sádicos, são tão animais como nós, têm sentimentos humanos, são criaturas de Deus, que dividem connosco o privilégio de ter uma alma, como afirma o sábio e iluminado filósofo grego, Pitágoras.

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:37

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Terça-feira, 15 de Dezembro de 2015

Saudação à Mãe Natureza

 

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«Ouço-te, Grande Espírito,

Faço-o através dos ouvidos do meu Espírito Lobo.

Ouço-te, Grande Espírito, nas árvores, como o vento entre a tua folhagem, pela noite, ao redor do meu povo.

Ouço a Tua voz nas águas, correndo sobre as pedras.

Ao lado da minha família e da minha gente, ouço o Teu Espírito em todas as coisas…

Vejo-te, Grande Espírito.

Vejo-te através dos olhos do meu Espírito Falcão.

Encontro o teu rosto, ao olhar os olhos das crianças do meu povo.

Vejo-te quando olho as estrelas,

No manto da noite que cobre o meu lar.

Grande Espírito, vejo o teu labor nas pinceladas da paisagem, pintando no deserto que me rodeia, vejo o Teu Espírito em todas as coisas…

Encontro-te, Grande Espírito,

Saboreio-te através da língua do meu Espírito Serpente.

Experimento a tua ânsia pela minha sabedoria, deleito-me na Tua tolerância perante a minha aprendizagem.

Encontro-te, Grande Espírito,

Aprecio a Tua compaixão pela minha alma, saboreio o Teu Espírito em todas as coisas…»

 

Oração Hopi

 

(Os HOPI são uma nação nativa norte-americana que vive principalmente na Reserva Hopi no noroeste do Arizona, rodeada pela Reserva Navajo. Alguns Hopi vivem na reserva indígena do Rio Colorado, no Oeste do Arizona).

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 19:27

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Terça-feira, 1 de Setembro de 2015

É ISTO QUE ACONTECE QUANDO SE ABANDONA O MELHOR AMIGO DO HOMEM

 

Um vídeo que leva às lágrimas quem tem alma e coração…

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:05

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Domingo, 26 de Julho de 2015

NÃO ACABEM COM AS TRADIÇÕES

 

Devemos mantê-las. Tal como sempre existiram.

 

Apedrejem-se as mulheres adúlteras. Queimem-se as bruxas.

 

Enforquem-se na praça pública, os corruptos, os ladrões, os que roubam o povo, os assassinos…

 

As tradições são a alma de um povo… São a herança de antepassados bastante evoluídos, fruto de uma cultura humanista…

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:07

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Terça-feira, 16 de Junho de 2015

Lá... entre a quietude, a harmonia, a paz e a Natureza que me anima… estarei…

 

Poderia ter escolhido viver tranquilamente, nos refúgios onde, por vezes, me afasto do mundo cruel que me rodeia.

 

Poderia permanecer lá… até ao fim dos meus dias, entre os seres que me animam e que são meus iguais…

 

DSC01710 REFÚGIO.jpg

 

Mas há um grito que me convoca para a luta que venho travando contra o animal-homem-predador… um mísero ser que ataca a Humanidade, a Natureza e a Vida…

 

Uma luta árdua… que me exaure a alma…

 

Necessito desta fuga…

 

Lá… entre a quietude da Criação, estarei um tempo efémero…

 

Mas regressarei ao ninho dos pérfidos, para continuar a combater a crueza da selvática natureza humana…

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 19:34

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