Sexta-feira, 19 de Julho de 2013

«Um Povo que não questiona é um Povo submisso e permissível à violência das touradas»

 

Dois excelentes textos que falam de afecto… pelos que vivem à mercê de abomináveis carrascos…

 

 

Esta imagem mostra o costume bárbaro a que os tauricidas e aficionados teimam em chamar erroneamente "tradição".

 

 

Por Tita Sampaio

 

Num mundo que vive de noções deturpadas, vejo muita gente a defender matérias como se tivessem uma perfeita definição do que é arte e principalmente como se se achassem donos e senhores da definição de “cultura”.

 

A prova disso mesmo é a ignóbil convicção - num certo cultivo grotesco de uma profunda ignorância - de que o prazer na tourada não é consequência da tortura e do sofrimento de um animal inocente, isto é, o touro entra na arena porque é seu destino ser toureado.

 

Não é necessário salientar a indigência de semelhante... não lhe vou chamar raciocínio, mas absurda dedução... A “lógica” pseudo-moralista desta maralha é a mesma das beatas que passam horas infindáveis em oração por si próprias. Ou a dos doentes mentais que passam horas a puxar o brilho ao pelo dos cavalos, numa mostra doentia de um afecto que terminará um dia por transformá-los em base de mesas depois de serem feridos de morte, mas que no entanto não são capazes de se levantar para afagar o bebé que chora a meio da noite, pois isso não é coisa de macho e a mulher que o faça.

 

Que dizer de quem acha que o sentimento que se pode ter por um animal, o prazer de partilhar momentos de alegria e a angústia de uma correria para o veterinário, não passam de modas? Tudo não passa de um sentimento menor, ressabiado, de uma pequenez sem sentido e de um profundo sentimento de frustração perante a vida e a sociedade que os envolve.

 

Partir do princípio de que o homem é o único que pode ter direitos e de que o direito é uma realidade cultural, é a mais profunda demonstração de uma falácia ignorante e desprovida de qualquer sentido. O homem, como ser sapiente, tem a obrigação moral de defender os animais e essa defesa é o exponencial moral da condição humana, jamais sendo uma degradação da sua humanidade.

 

Rotular os movimentos anti-taurinos como uma tendência social de origem urbana, é não compreender o mundo rural e uma tentativa de conflitualidade entre dois «mundos». Note-se a utilização do termo virilidade como uma justificação do meio pró-tourada como que o confronto entre o animal e a besta (e a besta não é o touro), viesse provar a superioridade do homem.

 

As próprias justificações pró-taurinas são a imagem reflectida de um pensamento que se quer erradicado de uma sociedade evoluída. O meio rural não é, sendo-o só na tacanha visão de uma mente doentia, um mundo violento e pouco higiénico, e tão pouco um mundo onde a aceitação da tourada é plena. É a eterna dicotomia aldeia versus cidade sem nunca terem a noção de que "aldeia sempre foi sinónimo de isolamento e conformismo, de mesquinhez, aborrecimento e mexerico."

 

Esta só o é porque se acha conveniente manter um povo ignorante e estúpido, pois um povo que não questiona é um povo e uma sociedade submissa e permissível à violência das touradas.  

 

***

 

Por Cláudia Vantacich

 

(Texto dirigido a uma aficionada)

 

Nazaré, a sua liberdade termina onde começa a liberdade de outro ser senciente. Talvez ainda não se tenha apercebido de que o mundo evoluiu. Foram-se dando direitos aos seres humanos considerados de 2ª categoria, vulgo escravos, às mulheres, às crianças e agora aos animais.

 

A evolução tem-lhe passado ao lado, mas de facto é a questão fundamental actual mundial: os direitos dos animais. Tal como foi em tempos a abolição da escravatura. E tal como a Nazaré se opõe à abolição da tortura dos touros, muitos se lhe opuseram no passado. À escravatura, bem entendido. É uma consequência da evolução da nossa inteligência e consciência que, como sabemos, nunca aconteceu em simultâneo a todo o ser humano: os mais conscientes lutam, as leis vão mudando e os outros humanos menos evoluídos acabam por ter de aceitar e ir a reboque...

 

Sempre foi assim. Por isso, Nazaré, se não quiser ficar para trás na escala da evolução, comece a OLHAR para os animais e a tentar sentir e compreender que apesar de terem uma fisionomia e algumas características diferentes das nossas, são também DIGNOS de viver neste planeta com o máximo de liberdade, saúde e bem-estar possível.

 

No que respeita ao sofrimento e desenvolvimento de afectos eles são como nós. A ciência já o provou. Por isso é uma questão de tempo...

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:39

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