Copyright © Isabel A. Ferreira 2009
Eles sonham com campos em flor.
Sonham com trabalho.
Sonham com uma vida vivida em Paz.
Eles acreditam nos homens. Esperam um milagre. Eles tentam compreender o desequilíbrio dos mais fortes. A loucura dos que governam.
Nos tempos livres, eles fazem poemas como este:
À força de nos fazerem acreditar no Sol,
sentimos o seu calor nas nossas peles.
À força de nos impingirem mais um dia,
cremos que somos mais adultos.
À força de nos provocarem
sentimos a força do palavrão a defender-nos.
À força de nos ignorarem
precisamos de agredir para sermos ouvidos.
À força de nos calarem tantos sonhos
acreditamos na impossibilidade de viver.
À força de tanta fraqueza,
somo incapazes de subir alto, ao alto de nós,
para gritarmos que sonhar
é o primeiro passo para a partida…
***
Em dias de tempestade, eles escrevem prosa como esta:
Arrefeceu de repente. E eu não sei porquê. O som mudou. As cores mudaram. As flores murcharam, apesar do tempo primaveril. Porquê?... Não sei!
E é esta ignorância que me magoa. Que me maltrata. Quando as coisas não correm bem, ficamos esquecidos na prateleira. É como se Deus se esquecesse de abrir as janelas do Céu para deixar entrar o Sol.
O mundo parou de girar, só porque não compreendo os dias, os momentos sombrios, carregados de uma agressividade que transforma as palavras em algo que fere, que abre chagas e deixa cicatrizes.
Hoje a indiferença arrefeceu o meu Sol. Não pude sorrir e tudo se transformou, de repente. Que vontade de desistir! Entrei em seara alheia. Roubei as melhores espigas e, nesse acto, transformei-me em joio. E ali fiquei. Pregada ao solo por fortes raízes. Mas de que adianta, se sou apenas joio?
Se pelo menos esta tempestade me arrancasse as raízes e me transformasse novamente em espiga loira, no meu próprio campo!
Mas a tempestade não é demasiado forte. Preciso de ir buscar forças ao inferno para que a minha metamorfose seja possível. Porque sei que a força dos anjos não será suficiente para fazer mover a minha vida.
***
Eles são jovens.
Vivem na outra margem do sonho.